Listas de Rio põem críticos em alerta

Presidente do PSD ainda não tem lugar definido na lista pelo Porto. E não é prioridade. Fernando Negrão teve resistência em Setúbal e é apontado a número dois por aquele círculo.

A ordem é clara: o presidente do PSD quis caras novas para encabeçar os vários círculos eleitorais para as eleições legislativas e fugiu a (quase) todas as regras na escolha de personalidades para liderar as listas dos principais distritos. É um sinal de renovação profunda e surpreendente, mas também surgiram algumas opções da estrita confiança política de Rui Rio: por exemplo, de André Coelho Lima, cabeça-de-lista por Braga, ou Cláudia André, cabeça-de-lista por Castelo Branco. Ambos integram a comissão política nacional do PSD.

Nas distritais, o sinal de mudança foi visto a dois tempos: houve  quem elogiasse a estratégia de Rio, como o líder da distrital do PSD/Braga, José Manuel Fernandes, e houve quem antecipasse que estas soluções representam um sinal de que o líder do PSD se prepara para deixar cair a maioria dos críticos à sua liderança, vetando-os ou colocando-os em lugares de risco, não elegíveis.  Esta ideia está a deixar vários dirigentes locais nervosos ou em alerta para as reuniões que se seguem nas próximas duas semanas para fechar as listas com a direção social-democrata.

Certezas ninguém tem, porque, como frisou uma fonte parlamentar, «só Rio é que sabe, mais ninguém». E a regra é mesmo essa. O presidente do PSD pouco ou nada partilha sobre o que pretende fazer. 

O caso da lista pelo círculo do  Porto é sintomático. A escolha de Hugo Carvalho como cabeça-de-lista surpreendeu tudo e todos e não é claro, nesta fase, qual será o lugar do líder social-democrata. Rui Rio tanto pode ir em segundo, ao lado do ex-presidente do Conselho Nacional de Juventude, como na décima quinta posição, uma posição de risco face aos resultados de 2015 ( o PSD obteve 14 mandatos). 

A decisão está nas mãos de Rio, mas o sinal que deu é de que este dossiê não é prioritário para já. Primeiro é preciso apresentar algumas propostas do programa eleitoral para fechar tudo até ao final de julho. Isto porque o mês de Agosto é sinónimo de férias e «ninguém vai ouvir propostas nessa altura»,  lembrou ao SOL uma  fonte parlamentar social-democrata.

Revolução em Setúbal

O presidente do PSD convidou, entretanto, o vereador na Câmara de Setúbal, Nuno Carvalho, 37 anos, para encabeçar a lista por aquele círculo eleitoral. Mais uma vez a opção de Rio surpreendeu, sobretudo porque era expectável que a solução passasse pelo nome de Fernando Negrão,  líder parlamentar do PSD. De acordo com informações recolhidas pelo SOL, mal o nome do líder parlamentar começou a ser colocado como hipótese, na distrital de Setúbal surgiram sinais de desagrado. Não é por acaso que Negrão não consta da lista aprovada pela estrutura local. Perante a contestação, Negrão terá sinalizado  que não pretendia ser cabeça-de-lista em Setúbal.  Mas o próprio desmentiu ao SOL tal versão, negando qualquer recuo: « Tendo ocorrido o anúncio de um conjunto de cabeças-de-lista com as características que conhecemos, não faria sentido que em Setúbal assim não fosse. Daí o cabeça-de-lista ser quem é», respondeu Fernando Negrão, acrescentando não ser «adepto de duplos critérios».

Em Setúbal, o líder da distrital, Bruno Vitorino, não foi informado previamente da escolha  de Nuno Carvalho.  «Soube pela comunicação social, e aguardo pela reunião do próximo dia 18 para me pronunciar», disse ao SOL Bruno Vitorino. Ora, Nuno Carvalho já fazia parte da lista indicada pela estrutura distrital, aprovado como indicação da concelhia de Setúbal. A grande dúvida é a de saber o que acontecerá a Maria Luís Albuquerque. A ex-ministra das Finanças era a solução oficiosa da distrital de Setúbal para encabeçar a equipa, tal como nas eleições legislativas de 2015. 

Porém, se Fernando Negrão for candidato em segundo lugar na lista pelo círculo eleitoral de Setúbal (como tem sido apontado no partido), a ex-governante não deve ter disponibilidade para continuar. Se se confirmar que Negrão é candidato em segundo lugar por Setúbal, significa também que será a primeira vez que um líder parlamentar cede o lugar de topo num círculo eleitoral. Mas, tal como noutros distritos, a resposta só está nas mãos de uma pessoa: Rui Rio.

 

Perfil sem executivos mas Rio escolhe autarcas

No perfil dos candidatos, definidos há mais de um mês, a direção do PSD incluiu não só a necessidade de os escolhidos serem leais  à comissão política, como foi pedido às distritais que evitassem aprovar nomes ligados ao «exercício de cargos políticos executivos de eleição em acumulação».  Porém, Rio já escolheu vários autarcas com pelouros para cabeças-de-lista e uma presidente de câmara, a de Rio Maior, Isaura Morais, 

A candidata será cabeça-de-lista em Santarém e, apesar de Rio não ter informado a distrital de Setúbal da sua escolha, no distrito de Santarém, o processo foi diferente. O líder da distrital de Santarém, João Moura, chegou a ser sugerido para encabeçar a lista daquele círculo eleitoral, mas Rio fez saber  que não iria aceitar tal proposta.

 Isaura Morais, por seu turno,  tem um histórico de eleições para as estruturas locais no distrito, ganhou a Câmara de Rio Maior ao PS em 2017 e, em 2010, foi notícia por assumir ter sido vítima de violência doméstica.

Os critérios assumidos nas opções de Rio têm sido os de rutura e, por isso, convidou Henrique Silvestre Ferreira para encabeçar a lista pelo círculo eleitoral de Beja, nas próximas legislativas e Cláudia André, geógrafa e docente, para ser cabeça-de-lista em Castelo Branco.  O primeiro é engenheiro agrónomo e o seu nome está associado à Herdade Vale da Rosa, conhecida pela produção de uvas sem grainha. Henrique Silvestre Ferreira já ganhou, aliás, o prémio de «projeto mais inovador da Europa».  Por seu turno, Cláudia André é porta-voz para a educação, cultura, juventude e desporto no Conselho de Estratégia Nacional do PSD, coordenado por David Justino. 

Em Castelo Branco, o nome de Cláudia André está longe de ser consensual,  tendo a  candidata a deputada apoiado Paulo Moradias à distrital contra Manuel Frexes, há um ano. Perdeu. Mais, Cláudia André é vereadora na Câmara da Sertã, liderada pelo PSD, mas não tem pelouros atribuídos, apesar de pertencer à mesma maioria que governa o concelho.

 Não obstante as resistências internas, Rio continua a apostar em nomes fora da caixa e, em Aveiro, por exemplo, optou pela investigadora Ana Miguel Santos, que já tinha sido candidata em oitavo lugar nas listas para as europeias. Neste distrito, alguns deputados já têm também a indicação (não oficial) de que não farão parte das listas, como é o caso de Amadeu Albergaria. O parlamentar chegou a integrar a direção da bancada de Luís Montenegro, que desafiou Rio a ir votos no passado mês de janeiro.

Roseta foi para a política 

por causa de Sócrates

Por seu turno, na distrital do PSD de Lisboa, a cabeça-de-lista, Filipa Roseta, 46 anos, arquiteta de formação, foi uma escolha bem mais consensual e mereceu elogios na cúpula da distrital.

A ainda vereadora da Câmara de Cascais decidiu envolver-se na política  em 2009, quando o então o primeiro-ministro José Sócrates ganhou as eleições contra Manuela Ferreira Leite. «Pensei que era demasiado mau para ser verdade, eu tinha de me envolver, não dava para ficar sentada e assistir à decadência total do sistema», afirmou ao i. A habitação é a área que melhor conhece, ocupando o terceiro lugar na hierarquia da Câmara de Cascais, liderada pelo social-democrata, Carlos Carreiras.

Até agora, Rio já escolheu também os cabeças-de-lista de Leiria (Margarida Balseiro Lopes), Coimbra (Mónica Quintela) e o processo deve ficar fechado na próxima semana. A partir daí, seguem-se as reuniões com as distritais para finalizar as listas  e só então se perceberá se Rio veta nomes como o de Hugo Soares, braço-direito de Luís Montenegro, indicado pelo distrito de Braga.

Tensão na disputa por Castelo Branco

O presidente da distrital de Castelo, Manuel Frexes, demitiu-se há um mês, abrindo a porta a eleições internas que hoje se realizam. A disputa interna, com um universo de 700 militantes, faz-se entre Luís Santos e o deputado Álvaro Batista. Luís Santos denunciou ao SOL que têm existido pressões do lado dos apoiantes do adversário para este ato eleitoral. E aponta na direção do presidente da Câmara de Oleiros, Fernando Jorge. 

E dá o exemplo de uma súbita adesão de militantes naquele concelho. «A verdade é que temos onze seções e a maioria baixou o número de militantes, a da Oleiros duplicou», ou seja passou de 68 militantes para 135. «Saúdo esta vitalidade repentina», acrescentou o candidato. O caso já foi exposto à secretaria-geral do partido e está a ser esclarecido. Fernando Jorge disse ao SOL que nada fez de ilegal e que se limitou a ligar «a não mais de uma dúzia de pessoas» a lembrar que apoiava o deputado Álvaro Batista.  O parlamentar, que pretende «reforçar a liderança do PSD a nível do distrital», não tem conhecimento de qualquer problema. E mesmo Luís Santos isenta-o no caso.