A invasão silenciosa

No planeta existem hoje quase 4 mil milhões de pobres. Ora, como será, se todos começarem a querer vir para a Europa? E se reconhecermos a uns o direito de o fazerem, como poderemos negá-lo a outros?

A questão dos migrantes é hoje um dos grandes problemas do Ocidente e, em particular, da Europa.   E há duas maneiras de a ver: com o coração ou com a razão. De um ponto de vista emotivo ou de um ponto de vista racional.
Do ponto de vista emotivo, não há dúvidas nenhumas: devemos receber todos os refugiados, e todos os migrantes em geral, que vêm a fugir de guerras, da fome, das doenças, etc. É o nosso papel como povo civilizado (e cristão).
Mas do ponto de vista racional, a questão não se coloca com esta simplicidade. Se formos acolher todos os migrantes, se pusermos em prática uma política de portas totalmente abertas, a corrente engrossará de ano para ano – até se transformar numa mole humana imensa. E aí os conflitos entre os europeus e os de fora serão enormes. Hoje já vemos sintomas disso. Amanhã, a situação tornar-se-á incontrolável. 
Ora, antes que chegue esse momento, será mais avisado tomar medidas duras. 

As migrações não podem encarar-se com a leveza com que os nossos políticos o têm feito. Como se fosse um problema simples, uma coisa menor, fácil de resolver com boa vontade. Guterres, por exemplo, desvaloriza o assunto dizendo que estamos a falar de 1% da população europeia. Mas falará a sério? Não percebe que, se escancararmos as portas, amanhã serão 2% e depois 4%, num aumento em progressão geométrica? 
Note-se que este não é um problema de hoje. Em todas as épocas da História do homem houve regiões que se desenvolveram mais, tornando-se polos de atração de populações mais pobres.
Basta pensar em Roma, para o percebermos. A dado momento, todos queriam ir para Roma, atraídos pelas luzes do império. E o caso acabou como sabemos: com Roma submersa às mãos dos ‘bárbaros’. 

Sucede que a globalização agravou o fenómeno. Com ela, as migrações tornaram-se mais fáceis. Aquilo que na Antiguidade parecia situado a distâncias proibitivas, hoje parece estar ao virar da esquina. O mundo ficou mais pequeno. E por isso o problema das migrações coloca-se de forma muitíssimo mais aguda.
Neste momento, a Europa está já a ser objeto de uma invasão silenciosa por parte de povos vindos de todas as regiões do globo: do Médio Oriente, de África, da Ásia. Uns fogem a conflitos sangrentos, outros a extermínios étnicos ou religiosos, outros à fome, outros à doença, outros ainda procuram simplesmente melhores condições de vida. Vêm em busca do eldorado. 

No planeta existem hoje quase 4 mil milhões de pobres. Ora, como será, se todos começarem a querer vir para a Europa? E se reconhecermos a uns o direito de o fazerem, como poderemos negá-lo a outros?
 Claro que Portugal pode sorrir, porque a questão aqui não se coloca – ou coloca-se de modo muito menos agudo. Os nossos imigrantes são em grande número brasileiros, falam a nossa língua, integram-se com facilidade. E muitos não querem ficar cá: usam Portugal como plataforma de passagem para os países ricos, como a Alemanha ou a Inglaterra, onde passam logo que chegam a beneficiar de regalias sociais idênticas às dos naturais do país.

Mas outros países não estão na nossa situação. A Itália, por exemplo, está na linha da frente. É quem sofre primeiro o problema na carne. É fácil nós dizermos: sejam humanistas, recebam os migrantes, acolham-nos, tratem-nos bem. Podemos dizer isso porque… o problema é deles. Ficamos indignados com as declarações de Salvini. Mas o certo é que os italianos reiteraram-lhe a confiança, votando no seu partido nas europeias. E porquê? Porque são maus? Ou porque começaram a perceber que o problema é sério e não se resolve com boas intenções? 
A imigração na Europa começa a doer.

E é por isso necessário procurar para ela soluções de fundo. Que passarão sempre pela fixação dos migrantes nas suas regiões de origem. Na proximidade dos seus países, em zonas de acolhimento, livres de guerra, controladas pela ONU, onde as pessoas possam fazer as suas vidas. E aí, sim, valerá a pena o Ocidente investir, em massa, dinheiro e esforços. A emigração para a Europa é que não é solução. Nem para os europeus – nem para eles próprios.