Violência torna-se frequente em Hong Kong

Depois de oito semanas consecutivas de protestos maioritariamente pacíficos, a violência parece normalizar-se na cidade.

Confrontos violentos com a polícia, gás lacrimogéneo e balas de borracha – vestida de preto e com guarda-chuvas na mão, a população continua a indignar-se contra o Governo de Carrie Lam e a lei de extradição, entretanto suspensa. Foram dois dias seguidos de luta contra as autoridades e mais um fim de semana caótico na cidade de Hong Kong.

A violência parece estar a normalizar-se no território autónomo, após dois meses de protestos maioritariamente pacíficos. Tanto no sábado como nos protestos de domingo, os ativistas levaram capacetes e óculos de proteção e ergueram barricadas em vários locais. “Hong Kong livre!”, cantaram. No sábado, nos protestos em Yuen Long, bairro no centro da cidade, a investida da polícia deixou 23 pessoas hospitalizadas. Já este domingo, os confrontos deixaram pelo menos quatro cidadãos feridos. 

Um dos maiores focos de tensão entre os manifestantes e a polícia, no sábado, ocorreu na zona ocidental da cidade, onde fica o escritório do representante do Governo da República Popular da China. Lá, centenas de agentes da polícia de choque impediram os ativistas de avançar em direção ao prédio. Segundo a Reuters, o edifício já se encontrava fortificado com barricadas de plástico e o emblema chinês protegido com um escudo também de plástico. A polícia disparou gás lacrimogéneo num bairro densamente povoado, perto do edifício do representante chinês. Os ativistas responderam com tijolos, ovos e outros objetos, protegidos por barricadas – construídas por si – e pelos guarda-chuvas. 

Já não é a primeira vez que o escritório do representante chinês é alvo dos manifestantes. No passado domingo, os manifestantes vandalizaram o edifício com graffiti e atiraram tinta contra as paredes – algo que levou Pequim a reagir, dizendo que tal desafio à sua autoridade não seria tolerado. 

Embora Lam tenha suspendido a lei de extradição e afirmado que a deixaria cair de vez, a chefe de Governo recusa retirar a lei oficialmente da agenda parlamentar. Entre muitas coisas que têm causado o desagrado dos manifestantes destacam-se a exigência de demissão de Lam e a sua recusa de criar uma comissão independente para investigar a conduta policial. 

Esta é a maior crise política na cidade desde a transferência de soberania de Hong Kong para a China. Pequim tem avisado que a violência é um “desafio disfarçado” à fórmula “um país, dois sistemas”.