A volta de Rio a pensar no ataque à abstenção

Direção aposta em sessões de perguntas em vez de comícios. Haverá alguns no norte, centro e Lisboa, mas zero a sul. A corrida será focada no presidente ‘laranja’, que animou as hostes do PSD nas últimas semanas com as prestações televisivas.

Madeira, Açores e Portalegre não estão no roteiro da volta do presidente do PSD em período oficial de campanha. Rui Rio já esteve naqueles três círculos (irá ainda a Paris este fim de semana) e arranca para a estrada no dia 24, findos todos os debates. A caravana tem a primeira paragem no distrito de Setúbal, mas o líder social-democrata divide o dia entre Setúbal e Faro.

A estratégia de campanha foi pensada para tentar combater a abstenção e convencer indecisos – normalmente eleitores flutuantes entre o PS e o PSD – nos dias de estrada, entre 24 de setembro e 4 de outubro.

A direção de campanha reduziu o número de comícios e jantares-comício, preferindo apostar em talks (sessões de perguntas) em vários distritos para fechar a agenda diária. Será assim em Faro, Leiria, Guarda, Coimbra e Aveiro.  Em média estas sessões terão entre 100 a 150 pessoas, sendo mais alargadas em distritos como o de Aveiro onde estão previstas cerca de 300 pessoas.  Estas sessões serão abertas não só a militantes como a simpatizantes, com perguntas, normalmente, selecionadas. Ou seja, o risco é controlado. 

Os dirigentes sociais-democratas montaram a campanha focados no perfil do presidente social-democrata e escolheram apenas cinco distritos para realizar comícios ou jantares-comício.

Assim, estão previstos dois comícios ao ar livre tanto no Porto, como em Lisboa, nos últimos dois dias de campanha, a 3 e 4 de outubro, respetivamente. As iniciativas serão organizadas  após as arruadas de Santa Catarina ( no Porto) ou do Chiado ( em Lisboa), que fecha a campanha.

No arranque para a segunda semana de campanha, o PSD estará no norte do País e Rio terá uma festa popular em Viana do Castelo, no dia 28 de setembro e no dia 30 um jantar-comício na Quinta da Malafaia, no distrito de Braga. Esta paragem da caravana social-democrata é normalmente um ponto alto  para o PSD. Nas europeias de 26 de maio, por exemplo, foi um dos momentos de maior mobilização e Rio assumiu o comando da festa na bateria, numa altura em que o eurodeputado Paulo Rangel já vislumbrava uma derrota do partido naquelas eleições. No dia seguinte, a 1 de outubro, a data é dedicada ao círculo eleitoral de Viseu onde o PSD espera resistir a uma eventual derrota nas legislativas. Para o efeito há um comício, assumido enquanto tal, mas num espaço fechado. A partir daqui, à exceção de Porto e Lisboa, Rui Rio não terá mais comícios ou jantares. A ordem é apostar nos contactos com a população, além das tradicionais visitas a instituições.  Haverá ainda espaço para almoços temáticos com alguns setores de atividade em pelo menos sete momentos ao longo do período oficial de campanha.

No PSD houve quem lembrasse que Rio não iria fazer tantos comícios por receio da falta de mobilização, mas as críticas serenaram depois da prestação televisiva do presidente social-democrata e nas estruturas distritais a palavra desalento parece ter ficado na gaveta.  A ideia  é mobilizar, sobretudo porque, no PSD, há uma opinião, mais ou menos generalizada, de que Rio surpreendeu e até bateu António Costa no duelo televisivo, transmitido pela RTP, SIC e TVI.  Animado pelas reações, o próprio presidente social-democrata  fez uma avaliação futebolística da sua estratégia. «Joguei em 4-2-4. Dois a meio-campo, quatro à frente. Já perto do fim recuei para 4-3-3 para segurar mais o resultado. Foi esta tática», declarou Rio no dia seguinte ao debate com Costa, depois de uma visita a uma cooperativa frutícola no Cadaval e uma adega em Torres Vedras.

O duelo televisivo com Costa mereceu elogios até dos insuspeitos – e críticos internos– Carlos Carreiras, autarca de Cascais, e Carlos Abreu Amorim. Que ficou fora das listas. 

No debate com todos os adversários com assento parlamentar, ( transmitido pela Rádio Renascença, TSF e Antena 1) Rio acabou por protagonizar um momento em que mereceu críticas, designadamente, da coordenadora do BE, Catarina Martins.

O presidente do PSD foi igual a si próprio e voltou a defender a maior penalização dos jornalistas por violação do segredo de justiça. Catarina Martins respondeu que tal ideia seria «atacar a democracia ».  E, António Costa, líder do PS,  aproveitou a deixa para criticar uma «certa tendência autoritária» de Rui Rio .

 Esta posição pode criar ruído na estratégia do PSD mas nada que leva Rui Rio a mudar de agulha sobre o tema, porque, como já disse, pretende continuar a ser politicamente incorreto até ao fim. As contas fazem-se a 6 de outubro.