Carne de vaca

Os jovens de hoje consomem mais ou menos do que consumiam os jovens de há 20 ou 50 anos (que não tinham preocupações ambientais)?

Numa iniciativa insólita, o reitor da universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, decidiu acabar com a carne de vaca nas cantinas. Por ano, eram 20 toneladas que se consumiam. A decisão teve o apoio da Associação Académica, ou seja, dos estudantes, o que não deixa de ser perplexizante. Serão os mesmos estudantes que todos os anos oferecem na Queima das Fitas um espetáculo deprimente, embriagando-se até ao limiar do coma? 

É certo que nestas festas se consome álcool e não carne. Mas não parece jogar a bota com a perdigota. Estudantes excessivos e desbragados numas coisas viram subitamente jovens certinhos e politicamente corretos noutras? Será credível?
 
Os fenómenos de moda comandam cada vez mais as sociedades e naturalmente as novas gerações. De repente descobre-se que o plástico é péssimo e ninguém o quer. Depois é a carne. Amanhã será outra coisa qualquer. De caminho, fumam-se uns charros e compram-se umas calças rasgadas pelo preço de roupa nova.

Seria interessante, quando se iniciar o corte da carne de vaca nas cantinas de Coimbra, fazer um estudo sobre o aumento do consumo de carne de vaca – em bifes, pregos, hambúrgueres, etc. – nas cervejarias, restaurantes e tasquinhas das redondezas da universidade. Porque custa a acreditar que jovens na força vida, habituados a comer bifes em casa até à idade adulta, deixem de comer carne de vaca de um dia para o outro. 

Esta medida é puro folclore. E não é assim que se resolvem os problemas do ambiente. Antes pelo contrário: assim, sossega-se a consciência. Acha-se que já se está a fazer muito pelo planeta. E fora isso faz-se cada vez pior.

Pergunto: estes jovens que aprovaram o corte da carne de vaca, e outros que frequentam manifestações pela defesa do ambiente, fazem por ano quantas viagens de avião? E quantas delas são para destinos longínquos e remotos, quase no fim do mundo, que hoje estão muito na moda? Ora, quanto custa em termos ambientais uma viagem de avião? Quanto vale uma descolagem e uma aterragem, com consumos brutos de combustível e expulsão de gases? E quanto vale uma viagem de longa distância?

Pergunto: estes jovens que aprovaram o corte da carne de vaca, e outros que frequentam manifestações pela defesa do ambiente, consomem mais ou menos plástico do que consumiam os jovens de há 20 ou 50 anos (que não tinham preocupações ambientais)? Consomem de certeza muitíssimo mais – em sacos, produtos embalados, águas engarrafadas, refrigerantes, fraldas descartáveis, etc., etc.

E, em termos gerais, consomem mais ou menos em alimentação, roupa, energia elétrica, produtos eletrónicos, etc., do que consumiam os jovens de há 20 ou 50 anos? Consomem muitíssimo mais. E quais são os custos ambientais desses consumos, em recursos naturais e em poluição? 

E que dizer da quantidade de acessórios e de brinquedos que os filhos destes jovens casais têm, em comparação com os de há 20 ou 50 anos? E quanto não custará ambientalmente a produção de tudo isso? 

E estes jovens que aprovaram o corte da carne de vaca, e outros que frequentam manifestações pela defesa do ambiente, têm mais ou menos automóveis do que os jovens de há 20 ou 50 anos? Para o confirmar, basta passar perto de uma universidade e ver o mar de carros nas imediações. Ora, a produção de carros gera imensa poluição e os próprios carros são poluentes.

Portanto, a ideia de que as novas gerações são mais ‘amigas do ambiente’ do que as anteriores é rotundamente falsa. 
Os jovens de hoje têm mais preocupações ambientais… na teoria. Na prática, poluem infinitamente mais. Em alimentação, em consumíveis, em transportes, em viagens, etc.

Se formos fazer as contas, as preocupações ambientais das novas gerações poupam ‘x’ – mas o que consomem a mais representa ‘10 x’, ou ‘20 x’ ou ‘30 x’. Aquilo que se poupa, é sempre muitíssimo inferior ao que se gasta a mais. 
Os alunos de Coimbra aprovaram não comer carne de vaca na cantina – talvez por saberem que podem continuar a comê-la nos restaurantes, cervejarias e tasquinhas das imediações. Mas o que diriam se os proibissem de ir de carro para as aulas? E de viajarem de avião? E de consumirem tantos produtos embalados em plástico? E de comprarem tanta roupa? 

No fundo, a carne de vaca serve para ficarem de bem com as suas consciências. E para serem falados e estarem à moda. É um embuste. Um gesto folclórico.