‘O CDS está a viver o pior momento da sua história’

Ribeiro e Castro admite que o CDS está numa situação ‘muito perigosa’. O ex-líder do partido defende um debate sereno, mas ‘frontal’ e rejeita que o próximo presidente tenha de ser deputado.

A direita está a atravessar uma crise. Pode resolver-se a situação com a mudança de lideranças ou é mais profundo do que isso?
O CDS está a viver o pior momento da sua história. O pior no sentido de que é o mais difícil. Mas há uma crise interna profunda nos dois partidos. 

Por culpa das lideranças?
Estas lideranças têm pouca estratégia. Há muito jogo político, muita superficialidade e aparência. Tem de facto que ver com as lideranças e a estratégia errada que definiram. Creio que a ideia que ganhámos as eleições, em 2015, perturbou sempre a posição estratégica dos dois partidos. A ideia que ganhámos as eleições é falsa. 

A presidente do CDS, Assunção Cristas, demitiu-se, porque o partido perdeu muitos deputados. Alguns dos possíveis candidatos não querem assumir a liderança do partido. Como vê a situação?
É uma situação muito perigosa. Os dirigentes que conduziram a esta situação têm de explicar porque é que isto aconteceu. As pessoas que dirigiram o CDS nestes últimos quatro anos e que agora entregam o partido com estes resultados devem dar uma explicação. É importante que o façam para uma compreensão completa da realidade. 

Devem assumir os erros?
É preciso estar à altura das responsabilidades e é importante que este processo possa ser sereno, mas frontal. A situação é perigosa por causa dos resultados fraquíssimos, mas também pelas circunstância terrível em que o CDS ficou. O partido ficou no meio daquilo a que chamo o triângulo das Bermudas, aquele triângulo misterioso onde os aviões desaparecem. E o CDS está no meio de um triângulo das Bermudas que é o PSD, a Iniciativa Liberal e o Chega. Por outro lado, imagino que o CDS tenha outro tipo de dificuldades relacionadas com questões financeiras e organizativas. O partido tem uma estrutura muito débil. 

Não estranha que as principais figuras do CDS afastem uma candidatura?
Cada pessoa sabe as responsabilidades e os compromissos que pode assumir. O que acho errado é este condicionamento de que o próximo presidente do partido tem de ser um deputado. Isso é começar mal. Se os deputados consideram que tem de ser um deles o presidente do partido escusamos de fazer um congresso. O congresso tem de ter total liberdade para escolher quem entender e os deputados têm de ter maturidade para se colocarem ao serviço da direção.

Quando liderou o CDS teve muitos problemas com o grupo parlamentar, que tinha sido escolhido por Paulo Portas…
Exato. Houve uma guerrilha permanente, mas isso está errado e não pode acontecer numa situação tão difícil como aquela que estamos a viver. 

O partido ainda está a sofrer as consequências de se ter tornado muito dependente da liderança de Paulo Portas…
Creio que hoje ainda é. A crise que o partido atravessa começou ainda durante o tempo do Governo de Passos Coelho. Se tivéssemos ido em listas separadas, em 2015, o CDS teria tido um resultado semelhante a este ou pior ainda. 

Por causa da ameaça de demissão de Paulo Portas?
Bastaria que no tempo de antena do PSD fosse transmitido o discurso de Passos Coelho do dia 2 de julho de 2013 [na sequência do pedido de demissão de Paulo Portas] a garantir que não vira as costas ao país. O PSD e o CDS herdaram uma situação catastrófica deixada pelo PS. Tiveram um desempenho notável, mas os partidos que fizeram isso atuaram politicamente de uma forma tão desastrada que ainda hoje, uma boa parte da opinião pública, acha que eles foram os maus da fita e que o bom foi o Partido Socialista. 

Porquê?
Isto aconteceu porque a direção do CDS e uma parte do PSD volta e meia discordavam das medidas [de austeridade]. Devíamos ter explicado que essas medidas eram indispensáveis para conseguir salvar o país, mas era difícil fazer esse discurso quando a direção do CDS dava sinais de que não estava de acordo com elas. Mas acho que Paulo Portas deve dizer alguma coisa sobre a atual situação do partido.

Foi um erro a direita não se ter unido nestas eleições legislativas? 
Os dois partidos não têm de fazer sempre listas conjuntas, mas é preciso que haja uma coordenação estratégica e política. O PSD e o CDS nunca se devem afastar. O que se passou é que o CDS achou que poderia beneficiar do desgaste do PSD. O CDS andou demasiado tempo a correr em pista exclusiva e isso foi negativo, porque contribuiu para não ganharmos as eleições autárquicas e isso era fundamental.

As europeias também não correram bem…
Também não se ligou muito à preparação das europeias e estas eram invulgarmente importantes. Porque eram as últimas eleições antes da prova final das legislativas. E, portanto, partimos para as legislativas numa posição muito fraca. OCDS não teve capacidade de reação. Até deu a ideia que a direção deixou a líder do partido sozinha. OPSD ainda reagiu e Rui Rio fez uma boa campanha. Isso traduziu-se nos resultados. OPSD conseguiu um resultado melhor do que nas europeias, mas o CDS não conseguiu recuperar.