Os pecados de Cristas

Infelizmente para o CDS, Assunção Cristas não aprendeu com os erros do passado, transformando o partido numa substância morta, sem doutrina e sem causas, limitando-se a apregoar medidas a avulso, a maioria delas inócuas e geradoras de divisões no seu próprio seio.

A partidocracia, instituída pela abrilada, nasceu viciada, atendendo a que as regras do jogo foram ditadas pelos militares revolucionários, escudados no chamado Movimento das Forças Armadas, obedientes a Moscovo e, consequentemente, apostados em entregar Portugal ao expansionismo soviético.

Aproveitando-se de um imaginário golpe que ocorreria em 28 de Setembro de 74 e alegadamente protagonizado pelas forças que apelidaram de reaccionárias, os militares que então, de facto, governavam o País, proibiram e ilegalizaram todos os partidos que se situavam na área da direita, nomeadamente o Partido do Progresso, o Movimento Popular Português e o Partido Liberal, permitindo somente aqueles que se deixaram submeter aos ideais da revolução.

Foi essa a razão pela qual ao CDS, denominado Partido do Centro Democrático Social,  foi tolerada a sua existência, passando este a ocupar um espaço politicamente vazio, mas apelidando-se como rigorosamente ao centro e repudiando qualquer ligação à direita.

O extremismo revolucionário foi derrotado no ano seguinte, em consequência do frustado golpe de 25 de Novembro, mas a proibição de qualquer partido ideologicamente à direita do CDS manteve-se, permitindo-se, no entanto, que a esquerda radical e anti-democrática permanecesse activa e legal, algo inédito nas democracias ocidentais.

Podem-se extinguir, por decreto, movimentos políticos, mas nenhuma proibição consegue silenciar um pensamento, pelo que o eleitorado conservador, católico e tradicionalista não desapareceu da face da terra e tornou-se na verdadeira base do CDS, concedendo-lhe os votos necessários para que aquele se afirmasse e se consolidasse como o terceiro partido, com forte representação parlamentar.

A força do CDS veio sempre das suas bases, que ignoraram a matriz centrista do partido, direccionando-o para o espaço político que os militares de Abril tinham decretado como inexistente.

Com o advento do cavaquismo, o CDS praticamente desapareceu do mapa, porque não soube guardar e cativar os eleitores da direita, os quais se deixaram seduzir pela política de rigor económico e de autoridade do Estado com que Cavaco lhes acenou.

Somente com Manuel Monteiro, e depois Paulo Portas, que tiveram a inteligência de guinar o CDS de novo para a direita, é que este recuperou parte do eleitorado perdido e voltou a ser um partido com peso na sociedade portuguesa.

Infelizmente para o CDS, Assunção Cristas não aprendeu com os erros do passado, transformando o partido numa substância morta, sem doutrina e sem causas, limitando-se a apregoar medidas a avulso, a maioria delas inócuas e geradoras de divisões no seu próprio seio.

Cristas não compreendeu, ou fingiu ignorar, que é nos meios conservadores, que se identificam com os princípios enunciados na doutrina social da Igreja e se batem pela preservação das tradições e costumes de que as populações se orgulham de ter herdado dos seus antepassados, que o partido vai buscar a sua sustentação, conseguindo, graças à sua inabilidade, a proeza de ter afugentado metade dos votantes que nele depositaram o seu voto nas anteriores eleições legislativas.

Pior, não teve a argúcia de vislumbrar que as causas que deixou cair foram recolhidas por outros que, juntos, obtiveram uma percentagem bem próxima daquela com que o CDS foi brindado, razão suficiente para o fazer regressar aos tempos em que era conhecido pelo partido do táxi!

Os conservadores viraram as costas a um partido que deixou de os representar, tendo uns optado por ficar em casa no dia em que se desenrolou o acto eleitoral e outros confiado o seu voto a quem apareceu a defender as ideias que Cristas remetera para o ostracismo.

A campanha eleitoral protagonizada pela líder do partido, a que praticamente toda a sua nomenclatura aderiu sem pestanejar, foi de uma pobreza franciscana, resumindo-se a constantes e cansativos ataques de índole pessoal e à completa ausência de ideias alternativas às que a cultura marxista nos tem imposto.

Em vez de se destacar na reprovação da ideologia do género, movimento que reivindica a destruição da família, principal pilar da civilização milenar em que crescemos, Assunção Cristas optou, antes, por fazer a apologia do casamento homossexual e dessa verdadeira aberração que é o sistema de quotas, em que as pessoas são escolhidas para um cargo não pela sua competência, mas pelo sexo com que nasceram.

Em vez de se insurgir contra a proposta comunista do parlamento repudiar a iniciativa de uma autarca, por acaso socialista, de erguer um museu alusivo ao período de governação de Salazar, preferiu antes abster-se, apavorada, infantilmente, com a simples ideia de poder ser conotada como fascista.

Em vez de procurar chamar o eleitor que se revê nas causas defendidas à direita, quis antes procurar cativar um eleitorado que tem o seu voto fidelizado nos partidos do bloco central, tornando-se repetitiva e ridícula com a sua obsessão de colocar o CDS no centro e centro-direita, conforme não se cansou de verbalizar até à exaustão.

Ou seja, Cristas limitou-se a procurar pescar junto daqueles que nunca nela votariam, esquecendo ostensivamente quem lhe poderia ter concedido o benefício da dúvida.

Transformou o CDS num apêndice do PSD, não se encontrando, nos respectivos programas, praticamente nada que os possa distinguir. E, como bem sabemos, entre o original e a cópia, a escolha dos eleitores recai em quem apareceu primeiro.

Em suma, a actual direcção do CDS resvalou o partido para o politicamente correcto, cavando, desse modo, um fosso intransponível entre as bases e aqueles que o dirigem e tornando o outrora combativo partido em mais uma marionete do desacreditado sistema em que mais de metade dos portugueses deixaram de acreditar, borrifando-se, em absoluto, para os actos eleitorais que lhes impingem.

Para a ajudar à festa, os recentes e poucos deputados dito centristas que foram agora eleitos, finalmente encontraram uma causa pela qual se pretendem bater: impedir que tenham de se levantar sempre que um deputado de um outro partido, que Cristas resolveu eleger como o principal inimigo a abater, queira ocupar o seu lugar.

Estamos conversados quanto à natureza deste CDS!

 

Pedro Ochôa