Nos braços da esquerda

E pronto, muito tempo e tantas eleições depois, acabaram por cair nos braços um do outro. Mais sofridos, é certo. Mais magros de peso relativo. Deixando pelo caminho eleitores e deputados. Murmurando afastamentos e encenando azedumes.

Chegaram ao limite, pensaram. Mais uma consulta popular e ficariam unidos, não podendo, na oposição. Outra e o Vox dava outro salto e o PP enfunava as velas.

Com este abraço, dizem que a Espanha vai assistir a um Governo progressista por imperativo histórico.

Em bom tempo. Em plena indefinição da crise catalã.

Em cenário de feridas por sarar à direita. Com a direita da direita a ganhar força, um Ciudadanos que se esvai e um PP recasado com o destino.

A maioria da opinião publicada, reitera a vitória do Podemos. Ao mesmo tempo é crítica do rebuço do PSOE em aceitar o que, agora, parece inevitável.

É conhecida a história do cidadão que foi chamado a ajudar um motorista a arrumar um carro em marcha atrás. Aconselhou, repetidamente: «Venha, venha, venha…».

Quando se ouve um som, grita «já bateu!».

A minha interpretação do acontecido é mais próxima deste cenário. Isto acontece porque o PSOE foi encostado às cordas.

O que vai fazer este Governo às grandes questões de Espanha? Vai federar as diversidades? Vai alterar a Constituição? E a República vem ou fica? Vai acabar com as possessões coloniais? Vai deixar a África em paz. É que progressismo é progressismo, não é conversa.

Um Governo de esquerda com o líder do Podemos como vice-presidente. Não, não é como por aqui nas areias de Portugal. Aqui os miúdos também cresceram, o BE e o PCP encolheram, o PS conseguiu não conseguindo.

O dr. Costa mantém o Pedro Nuno Santos no Governo. Chega como chancela da esquerda, ficando todos os demais de fora.

E vai fazer jus ao princípio do Governo progressista, também.

Anunciam-se grandes cometimentos.

Como se nada fosse, nos meios de comunicação social já aparecem textos justificativos das novas tendências. Textos baseados em estudos de empresas especializadas. Qualquer coisa de absolutamente casual como está de ver.

Portugal entrará no mundo dos países ricos porque vai englobar o rendimento das rendas no IRS. Vai imitá-los, pelo menos a seis. Sobra a Suécia. É pobre.

Cresce a receita. Não é importante, diz o primeiro dos ministros, com a insustentável leveza do ser que o caracteriza. É, sim, um contributo para a equidade fiscal. E, pelos vistos, um fator de progresso. Não, nisto não ficaremos atrás dos outros.

Dirão alguns poder influenciar negativamente o investimento em imobiliário e a construção. Mas como?

Se as taxas de juro são o que são e só falta pagar aos bancos para lá ter o dinheiro.

Portanto, quem o tem rende-se e aceitar tudo porque dois gémeos siameses nos USA e no UK, se encarregam de perturbar o mundo e aumentar a instabilidade A Espanha, ao menos, faz tudo às claras.

Aqui, o caminho é outro.
Dividindo o poder, uns fazem o mal e outros a caramunha. Sem casamento, porém.

Não é por acaso que uma fronteira nos separa. É que, mesmo coincidindo no objetivo final, há caminhos vários. É gente diferente.

Num lado a confusão da paella e no outro a elegância da pescada com todos. Valha-nos a singularidade. Magalhães ou Delcano, a mesma luta. O mundo é redondo e a esquerda também.