A derrota desta Europa

Nas vésperas das eleições britânicas, a nossa imprensa não se cansou de enfatizar que as sondagens em Inglaterra não são fiáveis, procurado, assim, desvalorizar todos os indicadores que sugeriam uma maioria absoluta dos conservadores.

No próprio dia anterior ao acto eleitoral, os jornaleiros de serviço nos canais generalistas rejubilaram com as sondagens que, alegadamente, apontavam para uma diminuição da vantagem do partido do governo sobre os trabalhistas, relatando mesmo uma forte probabilidade de Boris Johnson perder o mandato de deputado, facto que inviabilizaria a sua recondução como primeiro-ministro.

Na verdade, na Grã-Bretanha para se chegar ao governo é preciso ser-se eleito para a câmara dos comuns, ou seja, tem que se vencer na circunscrição em que se é candidato, exactamente o contrário do que por aqui se passa, em que um derrotado pode chegar a primeiro-ministro, conforme a nossa História recente o demonstrou.

Pois bem, para grande desgosto dos nossos vendedores de notícias, os conservadores não só obtiveram uma confortável maioria absoluta, como conquistaram a maior vitória eleitoral das últimas décadas, infligindo aos trabalhistas a pior derrota dos últimos oitenta anos.

E Johnson, claro está, cilindrou os seus directos adversários e confirmou, sem margem para dúvidas, a sua permanência no nº 10 de Downing Street.

Assim que os resultados eleitorais foram sendo conhecidos, e quando se dissiparam quaisquer dúvidas relativas à vitória esmagadora dos conservadores, os nossos comentadores politiqueiros do costume procuraram logo uma explicação para o desaire dos trabalhistas, vulgo socialistas. E do alto da sua sapiência decretaram que esta se deveu exclusivamente à excessiva deriva à esquerda imposta pelo seu líder, manobra que assustou um eleitorado mais moderado.

Nada mais falso, porque a viragem à esquerda dos trabalhistas materializou-se assim que Corbyn e os seu correligionários discípulos de Marx se apoderaram dos destinos do partido, tendo este sido já bastante penalizado nas urnas nos diversos actos eleitorais que se efectuaram nos últimos anos.

Além de mais os liberais democratas, fervorosos defensores das políticas cozinhadas fora de portas, também foram fortemente castigados pelo eleitorado, quando seria natural que fossem eles a absorver a maioria dos descontentes pelo rumo traçado pelos actuais dirigentes trabalhistas.

O estrondoso triunfo de Johnson tem uma única explicação, a de que os britânicos, pura e simplesmente, se fartaram desta Europa, a dos burocratas de Bruxelas, e confirmaram, de forma inequívoca, o referendo que ditou a saída da Grã-Bretanha da União Europeia.

A vitória conservadora representa a derrota de um projecto europeu caduco, em que as principais decisões que afectam a vida quotidiana dos europeus são aprovadas em sombrios gabinetes, povoados por tristes tecnocratas que não se submeteram a qualquer plebiscito que lhes permita decidir em nome de povos que não os mandataram para esse efeito.

Foi uma vitória do soberanismo, em que cada povo é responsável exclusivo pelos destinos da sua Nação, e uma derrota do globalismo, que se esforça em retirar a identidade nacional a cada uma das Pátrias com língua e cultura próprias e fronteiras definidas.

Foi, também, uma vitória do conservadorismo, que atenta às tradições culturais e aos costumes enraizados nas várias comunidades, e uma derrota do liberalismo desenfreado imposto por Bruxelas e do marxismo protagonizado por Corbyn.

Acresce que, apesar do Brexit, e contrariando os maus presságios de quem antevia a asfixia económica e financeira da Grã-Bretanha após o abandono da UE, o nível de vida dos britânicos cresce a olhos vistos, com uma economia pujante, que em nada se viu afectada pelas peripécias em torno do reassumir da soberania nacional, factor que, em grande medida, igualmente contribuiu para o rotundo sucesso de Boris Johnson.

Por muito que se apontem baterias contra o governo conservador do Reino Unido, uma coisa é certa, os ingleses vivem bem e nós, portugueses, continuamos, e cada vez mais, na cauda da Europa e a sobrevivermos à custa do endividamento das gerações vindouras.

Os ingleses têm Johnson, um estadista corajoso e patriótico, que põe os interesses nacionais acima de quaisquer outros, e nós temos que nos contentar com essa figura sinistra, com um passado duvidoso e cheio de suspeitas nunca dissipadas, e que, sabe-se lá como, chegou a segunda figura do Estado, pedestal de onde agora se entretém a procurar silenciar quem o incomoda, e com o seu cúmplice de longa data, que responde pelo nome de Costa.

É a diferença entre viajar em executiva ou em económica!