Edifícios que não resistem ao tempo

O MAAT, com apenas três anos de idade, revelou-se mais vulnerável aos elementos do que os velhinhos edifícios à sua volta

Um dos traços que distinguem a boa da má arquitetura é a capacidade que a primeira vai revelando para envelhecer sem perder a dignidade. Algumas construções pré-fabricadas até exibem ótimo aspeto assim que são entregues ao cliente, mas ao fim de dois ou três anos começam a dar sinais de deterioração e de desgaste. A sua falta de qualidade acaba por vir à superfície. Inversamente, há edifícios que resistem incólumes à passagem do tempo, mostrando que o autor não se limitou a pensar no curto prazo, mas se preocupou em deixar uma obra para perdurar.

Lisboa ganhou em 2016 um dos seus marcos urbanos mais importantes destes últimos anos. Tal como a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerónimos o vêm fazendo há cinco séculos, o MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, ali ao lado, modela literalmente a silhueta da cidade para quem a vê a partir do Tejo. As suas curvas futuristas tornaram-se um cartão-de-visita da capital e um sinónimo de modernidade.

Mas logo à ‘nascença’ começaram a aparecer os problemas. No dia da inauguração do museu havia ainda, para espanto de muitos, operários a colocar as placas cerâmicas que revestem a superfície do edifício, numa demonstração de improviso pouco consentânea com a pompa do momento. Poucos meses depois, o museu voltava a fechar as portas porque havia novas obras para fazer ou concluir. Segundo a administração da Fundação EDP, que é responsável por este equipamento, essas obras já estariam previstas.

Se essa nova intervenção poucos meses depois da inauguração já era motivo de alguma estranheza, os acontecimentos desta semana tornam tudo ainda mais incompreensível.

É certo que se registaram por estes dias ventos fortíssimos que provocaram estragos e fizeram vítimas um pouco por todo o país. Mas exige-se de um grande edifício, seja ele público ou privado, que esteja construído de forma a não se desconjuntar às primeiras rajadas.

Na passada quinta-feira, parte do teto do edifício do MAAT cedeu por causa do mau tempo, provocando estragos consideráveis. As imagens divulgadas pela comunicação social mostram destroços que parecem feitos de papelão. Felizmente não houve feridos – os danos foram apenas materiais. Mas poderia ter havido uma desgraça.

É preciso, pois, averiguar se a culpa é do projeto, se da execução; se da arquiteta, do empreiteiro ou da tecnologia usada. Mas uma coisa parece indesmentível: o edifício patenteou uma fragilidade que oferece poucas ou nenhumas garantias para o futuro.

Neste caso, já nem se trata do teste do tempo, mas sim do teste da meteorologia. Com apenas três anos acabados de fazer, o MAAT revelou-se mais vulnerável do que muitos dos velhinhos edifícios à sua volta. Como os Jerónimos ou a Torre de Belém. O que nos restaria deles, se começassem a cair aos bocados a cada tempestade que por aqui passa?

jose.c.saraiva@sol.pt