PCP recorda assassinato de membro do partido

“Nas cartas que conseguiu enviar para o exterior da Penitenciária, uma delas escritas com o próprio sangue, Militão Ribeiro fala do seu lento e cobarde assassinato”

O PCP usou a sua página no Facebook para assinalar os 70 anos da morte de Militão Bessa Ribeiro, membro do partido que morreu na Penitenciária de Lisboa “às ordens da PIDE”.

“A 2 de janeiro de 1950 morreu na Penitenciária de Lisboa Militão Bessa Ribeiro, membro do Secretariado do Comité Central do PCP, assassinado pelo fascismo de modo particularmente cruel. Tinha 53 anos de idade, dez dos quais passados nas prisões, com duas passagens pelo Campo de Concentração do Tarrafal”, refere o partido.

Os comunistas lembram que o cadáver de Militão Ribeiro “pesava apenas 32 quilos e a sua imagem evocava imediatamente os prisioneiros dos campos de extermínio nazi-fascistas”.

“Nas cartas que conseguiu enviar para o exterior da Penitenciária, uma delas escritas com o próprio sangue, Militão Ribeiro fala do seu lento e cobarde assassinato, denunciando os maus tratos a que era sujeito, a alimentação desadequada e a assistência médica insuficiente”,refere a publicação do PCP.

Segundo a informação disponível no site do Museu do Aljube, Militão Ribeiro nasceu em 1896 em Murça. Iniciou a sua militância política no Brasil, para onde emigrou quando tinha apenas 13 anos, chegando mesmo a pertencer ao Partido Comunistas do Brasil. Foi considerado um “indesejável” naquele país e acabou por ser repatriado no início dos anos 30.

“Foi preso em julho de 1934, acusado de pertencer ao Socorro Vermelho Internacional. Encarcerado na Prisão do Aljube do Porto, foi condenado pelo Tribunal Militar Especial, em abril de 1935, a doze meses de prisão em Peniche, onde permaneceu muito além do tempo a que fora sentenciado. Em Peniche foi acusado de insubordinação, após participar numa luta dos presos, e daí transferido, em junho de 1935, para a Fortaleza de Angra do Heroísmo, nos Açores. Em outubro de 1936 fez parte do grupo de presos que inaugurou o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, tendo integrado o organismo de Direção da Organização Prisional Comunista no Tarrafal”, lê-se no site do museu.

Foi libertado em 1940, após amnistia. Volta a ser preso dois anos depois, na Prisão do Aljube, por estar envolvido no movimento grevista de 1942. “Condenado, em 5 de abril de 1944, a quatro anos de prisão correcional, foi reenviado para o Tarrafal, sendo solto no final de 1945, em resultado de nova amnistia”, refere a publicação.

“Em março de 1949 Militão Ribeiro foi preso numa casa clandestina no Luso. Acusado de pertencer “à organização secreta subversiva denominada ‘Partido Comunista Português’”, passou pelas prisões da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) no Porto até ser transferido, em 10 de maio de 1949, para a Cadeia Penitenciária de Lisboa”, descreve o artigo.

As sucessivas passagens pela prisão, os maus-tratos acabaram por deixar Militão Ribeiro muito debilitado. Acabou por morrer na prisão, em 1950, aos 54 anos, vítima de uma doença pulmonar infecciosa. “Profundamente doente, foi colocado em regime de rigoroso isolamento durante nove meses e abandonado, sem assistência médica digna desse nome, a uma morte anunciada. O próprio, em cartas escritas na prisão dois meses antes de morrer, acusava a PIDE de “envenenamento”. A greve de fome que iniciara, como protesto contra o regime prisional a que estava submetido, não demoveu, porém, as autoridades”, lê-se no texto publicado no museu do Aljube.