Novo caso de ‘familygate’ ensombra PS de Braga

Cooperativa gerida pela autarquia socialista está em dificuldades desde que foi criada uma empresa privada concorrente. A mulher do presidente da cooperativa é sócia da clínica privada.

Os conflitos de interesses entre  setor público e setor privado envolvem, novamente, familiares no Partido Socialista. Desta vez, a história chega de Guimarães e envolve a cooperativa Taipas-Turitermas e a empresa privada Neurónio Cristalino Lda. A notícia é avançada na edição de janeiro do jornal regional de Guimarães Reflexo.

Em 2015, foi inaugurado o edifício da Clínica Médica de Saúde, gerida pela Taipas Turistermas, e apresentada a requalificação da vertente termal e spa. O presidente desta cooperativa era, na altura, Ricardo Costa. Uma vez que a Câmara Municipal de Guimarães é sócia maioritária desta cooperativa, Ricardo Costa foi nomeado pelo executivo socialista da autarquia. 

Quatro anos depois, em 2018, foi criada a Neurónio Cristalino, Lda – uma empresa com três sócios, sendo um deles Elza Silva, mulher de Ricardo Costa, que detém um valor de 24 mil euros. Esta empresa nasceu para gerir a Casa de Saúde Guimarães-Taipas, considerada uma concorrente direta da cooperativa Taipas-Turitermas, já que os serviços oferecidos eram os mesmos.

Segundo o jornal regional Reflexo, as denúncias de conflitos de interesses foram feitas pelo médico ortopedista da cooperativa, Hélder Pereira. Numa exposição à Câmara Municipal de Guimarães, presidida por Domingos Bragança, Hélder Pereira referiu em setembro do ano passado o «desinvestimento e tentativa de desvio de médicos» da cooperativa para a clínica privada da mulher de Ricardo Costa. Além disso, a clínica pública deixou de ter algumas especialidades médicas, passando essas a existir apenas na clínica privada.  

No mês de dezembro do ano passado – dez anos depois da designação de Ricardo Costa como presidente –, foi votada uma alteração à presidência da direção da cooperativa. Dessa votação resultou a substituição de Ricardo Costa por José Maia Freitas, membro da direção. 

Ao jornal Reflexo, Domingos Bragança explicou que «é normal haver necessidade e até disponibilidade para sair e para vir alguém da própria direção dar continuidade». «Foi um processo normal», acrescentou o atual presidente da Câmara Municipal de Guimarães. Quanto à nomeação do novo presidente, Domingos Bragança referiu que «é um gestor  com reconhecimento, já trabalhou em diversas unidades empresariais de grande expressão, na sua área de internacionalização e que dará um contributo decisivo numa nova abordagem». 

Relativamente aos resultados da cooperativa, o Estado de Viabilidade Económico-financeira para os anos de 2018 até 2020, feito pelo Instituto Politécnico do Cávado e do Ave a pedido da Taipas Termal, revelou, segundo o jornal regional, que a previsão de custos e proveitos foi sempre negativa. Para 2018, o estudo mostrou que a cooperativa apresentou um resultado negativo de 324.303 euros. Em 2019, manteve o saldo negativo de 317.895 euros e, em 2020, um saldo negativo de 310.971 euros. Estes são os mesmo valores que o executivo municipal aprovou transferir, em 2018, para a Taipas Termal através de um contrato programa que contou com os votos contra de toda a oposição. 

De referir que uma proposta semelhante tinha sido chumbada duas semanas antes numa reunião onde não esteve presente o autarca Domingos Bragança e Ricardo Costa não votou por ser o presidente da cooperativa. 

A cooperativa enfrenta agora um período de problemas de liquidez, com menos médicos e menos especialidades médicas. A diminuição da oferta e, como referiram as denúncias, o desinvestimento desde que a sociedade Neurónio Cristalino foi criada, têm aumentado as dificuldades da clínica pública.