Tudo o que sobe continua a subir

Tem sido uma festa esta discussão do Orçamento. Mais do que as iniciativas e as propostas, o que se surpreende é a verdadeira desfaçatez descoberta nos motivos e nas justificações. De todos os lados, saliente-se. Do lado dos partidos que não integram o Governo e do lado do próprio Governo. Até agora, a grande afirmação…

Tem sido uma festa esta discussão do Orçamento.
Mais do que as iniciativas e as propostas, o que se surpreende é a verdadeira desfaçatez descoberta nos motivos e nas justificações.
De todos os lados, saliente-se.
Do lado dos partidos que não integram o Governo e do lado do próprio Governo.
Até agora, a grande afirmação do conjunto que apoiou o governo foi a recuperação de rendimentos.
A troika, a malfadada, servida, não por todos aqueles que assinaram os termos e condições, mas por quantos ficaram sozinhos em palco, encarregou-se de tirar, de instalar a privação.
Instrumento da redenção, sem consciência da culpa ‘in contrahendo’, o Partido Socialista foi a espada da justiça.
Amparado, claro, incentivado, desafiado a forçar o destino.
Ora, o destino é verdadeiramente incerto.
Portanto, a prudência exige mais cuidado que devolução, mais parcimónia, mais controle.
Mas, o tempo foi passando e mesmo aqueles que executaram os cortes sentem-se motivados para fazer o bem.
Há um tempo para morrer e um tempo para amar. Para todos.
Ora, a dificuldade é entender como o mesmo partido pode, nos proibitivos anos da brasa, apresentar propostas de benefício e agora recusá-las.

Sejamos concretos.
   O IVA foi aumentado por exigência da troika de 6 para 23%.
Natural seria que voltasse à taxa original.
Desde essa altura, um português, mesmo que amigo do ambiente, preocupado com a sua defesa, inimigo do abuso, vê-se constrangido a morrer de frio. Comparam-se os indicadores da Europa e pasma-se.
Só que o governo não quer abdicar da receita.
Sendo a imaginação livre, lança mão da bengala do ambiente.
Portanto, o ambiente impõe ao português tremente a Deus que se não aqueça, que não consuma eletricidade nem gás, que poupe nos combustíveis, que não utilize carvão.
Não tem, assim, saída o português.
A sua única defesa seria a redução da carga fiscal sobre a energia elétrica, justamente a que provoca a maior carestia do bem.
Acalorados, os ferrabrases do poder, encostam-no à parede.
Se consumir mais é um facínora do ambiente.
Iria consumir mais. 
Só o poderá fazer se, além do frio, sofrer da pobreza.
Mesmo que, ao lado e sempre oportuno, o ministro do Ambiente acene com a baixa do preço da energia  elétrica para a solução da dessalinização da água do mar.

Há mar e mar, há ter e gastar.
  Vendo bem, há um mundo novo a descobrir, no domínio dos impostos  relacionados com o ambiente. Não para substituir os existentes oferecendo um novo paradigma fiscal, mas para se lhes somarem.
Nesta guerra do IVA tudo ficou na mesma.
Os argumentos cruzados destroem-se.
O equilíbrio com o radical, a justiça com a culpa, a despesa com o superavit.
Até quem negoceia até a exaustão em segredo, condena a formulação evolutiva de propostas.
Sacudindo a eletricidade do capote, o Governo mantém os 16%.
Também é verdade que, já não recorrendo ao argumento do aquecimento global, o bom tempo está a chegar.
Para quê, portanto, falar no frio.
Um dia, promete, os rendimentos médios serão beneficiados em IRS.
Nessa altura voltará a estabelecer-se  a confusão. Uns quererão diminuir a receita, outros quererão mantê-la com disfarce.
Há um túnel ao fundo da luz.
Com tudo isto, o Livre deixou de ser tema.
Apagou-se.