Liberalização do espaço aéreo dos Açores faz crescer turismo

Cinco anos depois da liberalização do espaço aéreo, o número de turistas aumentou e as receitas também. Região ganhou ainda protagonismo na captação de starturps.   

A liberalização do espaço aéreo dos Açores fez disparar o turismo neste arquipélago, gerando mais-valias noutros setores de atividade, nomeadamente na agricultura e nas pescas. A garantia é dada ao SOL por Vítor Fraga, presidente do conselho de administração da Sociedade para o Desenvolvimento Empresarial dos Açores (SDEA). As unidades hoteleiras também agradecem. 

Mas vamos aos números. Em 2014, antes da liberalização do espaço aéreo (em 2015), o total de dormidas rondava 1,2 milhões, em 2019 ultrapassou os três milhões. O mesmo cenário repetiu-se nos proveitos turísticos. Em 2014 rondavam os 40 milhões de euros e cinco anos depois fixaram-se nos 100 milhões de euros. 

O que é certo é que este processo de liberalização, que começou a dar os primeiros passos em março de 2015 – quando foram liberalizadas as rotas aéreas para a ilha da Madeira, já que, para a Terceira, só arrancaram em dezembro desse ano –, traduziram-se numa «alavancagem do crescimento do turismo», não só pela redução do preço das passagens, como pela visibilidade que as companhias aéreas de baixo custo deram ao destino. 

A par do crescimento da hotelaria tradicional assistiu-se ainda ao aumento do alojamento local que, no final do ano passado, já ultrapassava as mil unidades. «Este tipo de alojamento é muito importante porque permite aos turistas que nos visitam terem experiências diferentes no destino. Estão muitas vezes mais próximos das populações, mais integrados. É uma oferta complementar que consideramos bastante interessante, naturalmente, devidamente legalizada e com todas as questões fiscais regulares», revelaram ao SOL, os responsáveis do setor. 

Também o mercado rent-a-car sofreu uma subida significativa com o surgimento de novas empresas, algumas das quais internacionais, atraídas pelo potencial turístico dos Açores, a par de mais operadores turísticos que diversificaram a carteira de produtos oferecidos nas várias ilhas.

O empreendedorismo ganhou força

Mas não é só o turismo que tem ganho força. O empreendedorismo também tem saído reforçado. De acordo Vítor Fraga, o arquipélago está a entrar na rota dos investidores internacionais. Segundo as contas do responsável, cerca de 1300 projetos já foram aprovados e serão executados até final do quadro comunitário em 2022. O investimento ronda os 500 milhões de euros e deverá criar 2.900 postos de trabalho. 

«Este é o maior investimento privado de sempre nos Açores», disse, acrescentando que chega de várias latitudes: «Temos investimento nacional, dos EUA, do Canadá, da Europa, como do Médio oriente e da China».

Entre as iniciativas que a Sociedade para o Desenvolvimento Empresarial dos Açores tem em mãos, o responsável destaca o projeto aeroespacial de Santa Maria. «A investigação aeroespacial vai marcar os Açores para as próximas décadas. Santa Maria goza da particularidade de ser um território que tem as condições ideais para o lançamento de satélites, quer de órbita equatorial quer de órbita polar. É nesta perspetiva que se desenvolve o projeto do Spaceport», salienta.

Outra joia da coroa, segundo Vítor Fraga, é a economia do mar. E a explicação é simples: os Açores vão dar a Portugal a dimensão atlântica quando for aprovada a nova plataforma marítima intercontinental, que vai permitir ao país gerir 69 vezes a área do seu próprio território atual, dando como exemplo, os projetos de aquacultura. 

E as mais-valias não ficam por aqui. O responsável garante que este projeto vai ter peso no que diz respeito aos estudos das alterações climáticas.

Também em marcha estará o projeto de avançar com os novos cabos submarinos para manter as ligações de telecomunicações entre Portugal Continental e as ilhas da Madeira e Açores. Para isso, foi criado um grupo de trabalho para estudar e analisar a configuração técnica e financeira mais adequada para a substituição atempada dos cabos submarinos. O custo ronda os 119 milhões de euros. As comunicações eletrónicas entre o Continente e as regiões autónomas são atualmente asseguradas por um sistema de cabos submarinos, denominado anel CAM, formado por 3 ligações em triângulo, sistema que está a 3/4 da sua vida técnica máxima (25 anos) sendo necessário acautelar atempadamente a sua substituição. O grupo de trabalho recomendou ainda que se analisasse, numa fase subsequente, a necessidade de substituição das interligações nos arquipélagos dos Açores e da Madeira.

A atração de startups

O presidente da Sociedade para o Desenvolvimento Empresarial da região autónoma chama também a atenção para o facto de os Açores ganharem cada vez mais peso na atração de startups. A estabilidade político-económica do arquipélago, assim como as vantagens fiscais são apontadas como elementos diferenciais. 

Recorde-se que a região autónoma dos Açores goza de um diferencial fiscal vantajoso, na ordem dos 20%, em relação a Portugal Continental, em sede de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC), de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) e de Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA). A região também beneficia da 8.ª taxa de IRC e da 2.ª taxa de IVA mais baixas da União Europeia.

A localização – possibilidade de chegar no mesmo dia a qualquer capital europeia – assim como a existência de importantes infraestruturas tecnológicas dão um ‘empurrão’ na atração de startups para o arquipélago. 

E os números falam por si. Nos últimos dois anos, os Açores atraíram 18 empresas na área de tecnologia de informação, responsáveis pela criação de 140 postos de trabalho. Ao mesmo tempo, a região conta com uma rede de incubadoras: nove – cinco são públicas e quatro privadas.