Lisboa: estratégia para o turismo e para os lisboetas

Foi apresentado o plano estratégico para o turismo na região de Lisboa. Está tudo muito certo e é importante para a cidade e para a região. Mas importa não esquecer a qualidade de vida dos lisboetas, a identidade da cidade e a diversificação da economia.

O turismo em Lisboa ganhou particular importância nos últimos anos fruto da conjuntura internacional aliada às características locais no que respeita ao clima, património, segurança e custo de vida acessível mas também, deve dizer-se com justiça, graças a um trabalho persistente de atração de turistas que começou de forma intencional com o Lisbon Convention Bureau criado nos anos 80 e que antecedeu a atual Associação de Turismo de Lisboa (ATL) que tem coordenado e desenvolvido a estratégia para o turismo em Lisboa.

De acordo com os dados apresentados pela ATL, o turismo é a atividade económica mais importante na região, tendo gerado, em 2018, 14,7 milhões de euros de receita e mais de 201 mil empregos, correspondendo a 20,3% do PIB e a 15,4% do emprego. As vantagens do turismo são evidentes, mas a cidade tem de saber mitigar os impactos negativos. O plano apresentado é um instrumento para potenciar esta oportunidade e, simultaneamente, parece contribuir para corrigir alguns problemas verificados com o rápido crescimento do turismo.

A qualificação do turismo é assumida apostando num novo ‘patamar de excelência’ dando assim resposta à dúvida sobre que tipo de turismo se pretende promover. Por outro lado, parece ir no caminho certo da segmentação e na criação de novas centralidades em Lisboa e também na região envolvente.

Em Lisboa, afirmam-se centralidades como a Baixa, Belém, Castelo e Alfama e apontam-se áreas a desenvolver como o Cais do Sodré, Avenida da Liberdade, Parque das Nações e Eixo Ribeirinho. Nestas zonas apresentam-se como principais ativos o património e a cultura, as compras e negócios, a náutica, os cruzeiros, a gastronomia, a diversão noturna e os eventos.

Outra evolução significativa é o desenvolvimento de centralidades na região de Lisboa, sublinhando a importância de Cascais e de Sintra e promovendo Mafra e Ericeira, Oeiras e Almada/Costa da Caparica. Nestas centralidades, para além do património e da paisagem, aposta-se no golf, no surf, na praia e na náutica de recreio.

A qualificação, a segmentação e a criação de novas centralidades resumem apostas no sentido correto. Conseguindo continuar a potenciar o crescimento do turismo com uma menor concentração no centro de Lisboa através da dispersão da oferta turística, então ganha a economia e ganham os lisboetas na recuperação de qualidade de vida (que é o mesmo que dizer menor confusão com acumulação de turistas em algumas zonas).

No entanto ficam algumas reservas: importa salvaguardar a identidade da cidade de Lisboa sob pena de se tornar uma cidade igual a tantas outras no mundo, perdendo atratividade mas, sobretudo, tornando-se desconhecida dos próprios lisboetas. Por outro lado, é importante desenvolver o setor do turismo de negócios para o qual faltam infraestruturas, bem como apostar no retorno dos turistas, sendo importante a diversificação na oferta de eventos, espetáculos e exposições, assim como a criação de novos atrativos relacionados com a divulgação da identidade, história e cultura.

Por fim, embora merecendo reflexão e desenvolvimento, Lisboa e a região serão tanto mais resilientes no seu progresso quanto melhor forem capazes de diversificar a economia, desenvolvendo outras áreas de negócio, evitando a dependência absoluta do turismo.