Turquia abate terceiro avião do Governo sírio desde domingo e escala tensão com a Rússia

A tensão entre Ancara e as tropas do Executivo de Bashar al-Assad, apoiadas por Moscovo, está abrir a porta para um conflito direto no terreno entre as forças turcas e russas. 

A Turquia abateu um avião de guerra do Governo de Damasco esta terça-feira no noroeste da Síria, o terceiro desde domingo. A tensão entre Ancara e as tropas do Executivo de Bashar al-Assad, apoiadas por Moscovo, está abrir a porta para um conflito direto no terreno entre as forças turcas e russas. 

O Ministério da Defesa da Turquia disse ontem, pelo Twitter, ter abatido um caça F-16 (L-39 sírio), em Idlib, o que foi confirmado posteriormente pela agência noticiosa da Síria, a SANA. No domingo Ancara já havia abatido dois aviões. O ataque turco vem depois das forças de Assad terem retomado, na segunda-feira, o controlo da cidade estratégica de Saraqeb, onde se situam as autoestradas M4 e M5, pontos cruciais de ligação de Damasco a Alepo, a cidade mais populosa do país.

É a segunda vez que a cidade muda de mãos em menos de um mês. Os combates intensificaram-se nos últimos dias, levando as forças de oposição a recuarem para as vilas de Nairab e Afir, a oeste, enquanto o Governo sírio avançou para tomada de Saraqeb, apoiado pelo poder aéreo de Moscovo. Segundo os rebeldes, o Governo foi auxiliado por milhares de tropas de milícias libanesas e iraquianas, apoiadas pelo Irão, e deslocadas de outras áreas para ajudar na invasão da cidade – isto depois de dois dias de tentativas falhadas.

A batalha pelo controlo da província de Idlib, o último reduto dos rebeldes, pode trazer a pior crise humanitária desde que a guerra civil se iniciou, há nove anos, temem as Nações Unidas – os combates levaram a que, desde dezembro, mais de um milhão de refugiados se deslocassem para a fronteira turca.

Com a recente crise e aumento da violência na Síria, o Governo turco ordenou a sua guarda costeira e polícia fronteiriça a não impedirem os refugiados de passarem para a Europa, com o Presidente turco, Recep Tayyipp Erdogan, a dizer que não já não consegue conter a vaga de pessoas em fuga de Idlib, pondo em causa o acordo com Bruxelas.

Mas isso não significou que a vida dos refugiados ficasse, repentinamente, mais facilitada. “Estive na Turquia durante mais de dois meses. Um traficante ligou-me durante a noite e disse que o barco estava pronto, para eu me por pronto para cruzar. Ele disse que a fronteira estava aberta”, relatou à Al Jazira Ali Gulali, um jovem afegão de 15 anos que conseguiu chegar a Lesbos. A fronteira não estava aberta, afinal. No início da semana, Atenas disse que ia deixar de receber candidaturas de asilo durante um mês e repatriar os migrantes não documentados. E esta terça-feira, a UE elogiou a Grécia por atuar como “escudo” – Atenas está a usar gás lacrimogéneo contra os migrantes – ao dissuadir os refugiados de se dirigirem para território europeu.