Por um plano ‘P’ (Patriótico)

Há cerca de uma semana ocorreu um Conselho da Europa extraordinário para aprovação do Orçamento da UE. Foi um fiasco total dado que, para além de nada ter sido aprovado, as posições dos diversos ‘grupos’ se radicalizaram. Dias depois, a presidente da Comissão Europeia, anunciou a realização de uma Conferência Sobre o Futuro da Europa,…

A minha própria experiência política e institucional indica-me que quando as instâncias de tomada de decisões ‘entopem’, algum ‘golpe de Estado’ ou reestruturação dramática vai ser necessário para ultrapassar o ‘impasse’. Antes dessa fase, porém, o que acontece, quando tais instâncias de decisão ‘começam a entupir’ e a deixar mais assuntos ‘pendentes’ do que resolvidos, tenta-se sempre remover as divergências de fundo, estruturais, através de processos de ‘reflexão conjunta’, ‘seminários’ e ‘conferências’, na esperança de encontrar ‘uma nova plataforma comum’ (normalmente conjuntural ou ‘faz de conta’) ou, então, o esvaziamento dos apoios do outro contendor e a sua consequente ‘rendição’ e derrota. A UE encontra-se nesta fase, de progressivo ‘entupimento’ dos seus centros de decisão e de ‘fuga para a frente’ através de ‘Conferências’ que antecipam mudanças radicais de rumo.

De um mero ‘mercado comum’ do carvão e do aço integrado por meia dúzia de países, veio a resultar, em diversas fases, sugeridas e apoiadas pelos EUA, com finalidades geoestratégicas (evitar revoluções sociais na Europa Ocidental e, mais tarde, ‘engolir’ os países do leste europeu), uma vasta e complexa ‘União’ de 27 países onde os interesses próprios e conjunturais se sobrepuseram sempre a qualquer suposta (na realidade inexistente) ideia ou projeto comum.

Aos EUA já não interessa a UE para nada: não querem uma moeda concorrente ao dólar a ocupar uma significativa fatia do mercado; não querem uma UE com uma posição autónoma e prestigiada no mundo como fator de paz e de equilíbrio global. 

A primeira grande operação contra a UE foi o desmantelamento da Jugoslávia e a criação do estado fantoche do Kosovo, o ovo da serpente pronto a eclodir (às ordens dos EUA) em qualquer momento na ‘barriga da Europa’ (os Balcãs); a segunda grande ofensiva dos EUA contra a UE e o euro foi a chamada ‘crise financeira de 2008’, a qual não foi mais do que uma premeditada e bem planeada operação para ‘deitar abaixo’ o sistema financeiro da Europa continental, centrado na Alemanha e na França, criando uma vulnerabilidade estrutural da UE por longo tempo (nós próprios, em Portugal, bem pagamos para manter a ‘banca nacional a flutuar’!); a terceira grande operação foi o ‘caso Ucrânia’, peça fundamental da política de guerra total com a Rússia; acresce ainda a ‘reocupação militar’ da ‘Europa’ pelos EUA mediante sucessivos e provocatórios ‘exercícios’ nas fronteiras da Rússia e o desmantelamento do sistema de segurança nuclear.

Aos EUA só interessam alguns dos países europeus, para efeitos de uma confrontação política, económica e militar com a Rússia. Neste sentido, interessam-lhe os nórdicos, os bálticos e a Polónia (frente Norte e do Báltico), e o pacote fronteiriço com a Rússia a Oeste e Mar Negro (Ucrânia, Bulgária, Roménia e Turquia). A Alemanha, a França e outros não são confiáveis para essa política de confrontação e subsequente destruição física desses países.
A saída do Reino Unido da UE foi um importante passo nessa desmontagem, pelos EUA, do ‘projeto europeu’. Neste contexto, a UE tal como tem sido conhecida será, no futuro, cada vez mais, um morto-vivo ligado à máquina dos paliativos. É pena…

E Portugal? Dirigido por uma ‘elite’ política entreguista e subserviente ao estrangeiro e uma elite económica que só aprendeu a ‘viver de rendas’ (pimenta, ouro, escravos e, mais recentemente, de ‘fundos’) só lhe restará vegetar (sem mais acesso a colónias) entre as Berlengas, os EUA e a Inglaterra, como fez nos últimos 400 anos. 
Pobres de nós se não puxarmos pelos restos de Patriotismo, de Amor ao Trabalho, de Curiosidade Científica e de Desenrascanço que tanto nos caracterizaram historicamente!