Faz sentido falar em guerra?

Marcelo Rebelo de Sousa utilizou oito vezes a palavra guerra. Há quem avise que a comparação é ‘excessiva’ e apele à ‘lucidez’.

Marcelo Rebelo de Sousa utilizou oito vezes a palavra guerra, na comunicação que fez ao país, para definir a crise que estamos a atravessar devido ao coronavírus. O Presidente da República não tem dúvidas de que estamos a enfrentar «uma verdadeira guerra». Não foi o primeiro a associar a Pandemia da Covid-19 a uma guerra, mas há quem considere um exagero e um excesso de linguagem.

«É preciso ter cuidado com os excessos», afirmou Pacheco Pereira, na TVI 24. O comentador e ex-deputado do PSD considera que «não vale a pena estar com esta linguagem», porque esta pandemia «não pode ser interpretada como um conflito».

O social-democrata Miguel Morgado também fez um apelo aos políticos para que «não abusem da analogia da ‘guerra’», porque «nem todas as catástrofes» são guerras. «Não é só um defeito de imaginação política e moral. É que o efeito inicial de mobilização da população rapidamente se desfaz precisamente porque a presente calamidade não é uma guerra».

A ex-secretária de Estado da Educação Ana Benavente também escreveu um post no facebook a contestar o excesso de linguagem. «As palavras não são neutras. Guerras implicam armas que matam, militares e tropas, vencidos e vencedores, campos opostos, barbaridades várias». Para a ex-dirigente socialista, o momento que estamos a viver exige «lucidez» e «solidariedade» e estas comparações são dispensáveis. 

Não têm faltado comparações com uma guerra no espaço público. A ministra da Saúde Marta Temido, apelou à «disciplina» quando o país atravessa «um momento que é como se fosse uma guerra». E lembrou que «os ingleses mantiveram-se a trabalhar mesmo quando a Inglaterra sofreu ataques aéreos durante a II Guerra Mundial».
Nos comentários televisivos também se ouvem comparações entre o momento que estamos a viver e uma guerra. O conselheiro de Estado Marques Mendes considerou que «isto é uma guerra» e Jorge Coelho, em resposta a Pacheco Pereira no programa Circulatura do Quadrado, defendeu que estamos a viver uma guerra «onde há mortes e feridos».

Um inimigo invisível
O socialista António Campos não descarta a comparação. «Estamos numa guerra com um inimigo invisível onde todas as medidas decretadas para o combater são bem-vindas». 

O histórico do PS escreveu, nas redes sociais, que «cada um de nós está numa guerra de sobrevivência contra um inimigo invisível» e «a consciência cívica coletiva altamente mobilizada» é a «grande arma» para ultrapassarmos esta situação.