Há covid-19 na Coreia do Norte?

Num país onde falta tudo, sobretudo agora que a fronteira com a China foi fechada, cada vez mais norte-coreanos apostam em respostas caseiras contra a covid-19.

Normalmente, a Coreia do Norte já é um dos países mais autoritários isolados do mundo. Em tempos de pandemia, Pyongyang tomou medidas rápidas e duras, fechando logo em finais de janeiro a sua fronteira norte, com a China, com a qual a Coreia do Norte mantém cerca de 90% do seu comércio externo. Já foram postas de quarentena 10 mil pessoas, segundo os media estatais norte-coreanos, mas o regime assegura não haver nenhum caso registado de covid-19.

Dada a falta de kits de teste na Coreia do Norte, até pode não ser mentira. “Eles podem ter casos mas simplesmente não sabem como detetá-los”, explicou Kee B. Park, professor de medicina na Universidade de Harvard, que trabalhou lado a lado com os médicos norte-coreanos. Caso a pandemia alastre no país, onde há falta de acesso a nutrição e cuidados médicos “vai sobrecarregar o seu sistema muito rapidamente”, avisou Park, citado pelo New York Times.

A escassez é aumentada pelo encerramento da fronteira – o Asia Times estima que tenha efeitos maiore que as sanções internacionais – e muitos optam por soluções artesanais, com resultados dúbios, segundo o jornal sul-coreano NK Today, que paga a fontes anónimas no norte. Ganharam popularidade infusões de ervas como o ginseng, para reforçar o sistema imunitário, e muitos norte-coreanos tentam fazer desinfetantes com enxofre, vinagra, água quente, água salgada ou cal.

Face a isto, o principal jornal da Coreia do Norte, o Rodong Shinmun, publica frequentemente informação sobre a covid-19, apela a que se lave as mãos e recomenda o uso de vinagre como desinfetante. Os cidadãos são incentivados ao uso de máscaras quando saem à rua, e os que não o fizerem estão avisados que serão punidos.

Como seria de esperar, a imagem apresentada pelo regime é de total tranquilidade. A realidade, escondida pelo secretismo que rodeia o país, pode ser diferente. “Há casos na Coreia do Norte, mas não creio que o surto seja tão grande como na Coreia do Sul, Itália ou nos Estados Unidos”, considerou Ahn Kyung-su, um investigador sul-coreano especializado na saúde do país vizinho. “Os norte-coreanos estão treinados para obedecer às ordens do Governo e manter a ordem durante crises”, explicou ao New York Times.