O desabafo de um enfermeiro da Estefânia: Saídas podem colocar “os vossos filhos ligados a um ventilador”

“Quanto mais vezes saírem das vossas casas, mais aumentam a probabilidade de colocar os vossos filhos numa unidade de cuidados intensivos ligados a um ventilador onde nem os próprios pais poderão entrar nesse mesmo quarto”.

Portugal está em estado de emergência e luta para conter a propagação da covid-19. Face à situação que se vive, muitos têm sido os profissionais de saúde que têm recorrido às redes sociais para relatar os seus dias e fazer apelos constantes à população para quem fiquem casa. Desta vez foi Tiago Salgadinho, enfermeiro da unidade de cuidados intensivos do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, que deu conta dos dias difíceis que se vivem na linha da frente do combate à pandemia e a relembrar-nos que este não é um vírus que fragiliza apenas os mais velhos.

“Na última tarde, durante praticamente sete horas, estivemos eu, mais uma enfermeira e uma médica confinados a um quarto de pressão negativa, sem comer, beber, praticamente sem já quase sentirmos alguma coisa de diferente para além do suor, dores de cabeça, sede e muita vontade de sair dali”, começou por contar na publicação partilhada no Facebook.

 “À nossa frente estava uma criança pequena em estado muito grave que precisava e muito da nossa intervenção o mais rápida, consciente e organizada possível, e é esse o motivo que nos fez aguentar até ao limite”, confessa.

Ao mesmo tempo, o profissional de saúde critica o facto de haver centenas de portugueses a fazer escolhas que não são as mais corretas e recorda as consequências das mesmas.

“Interessante que ao mesmo tempo centenas de portugueses decidem passear, visitar as praias, passear o cão 5x por dia, ir ao supermercado a toda a hora e algumas ainda viajar até ao Algarve, recordo a essas pessoas que quanto mais vezes saírem das vossas casas, mais aumentam a probabilidade de colocar os vossos filhos numa unidade de cuidados intensivos ligados a um ventilador onde nem os próprios pais poderão entrar nesse mesmo quarto”, critica.

“Precisamos que não saiam das vossas casas, mais do que aplausos e reconhecimento no meio desta dificuldade, coisa que deveriam ter feito todas as vezes que lutámos pelos nossos direitos… Felizmente Portugal tem um excelente conjunto de profissionais de saúde que estarão aqui dia após dia, noite após noite, como em todos os momentos, por cada de vós”, apela.