A retoma de Lisboa depois do Estado de Emergência

O desafio que Lisboa tem pela frente é ainda mais exigente que o do país. O impacto económico desta crise na capital será particularmente severo. 

A pandemia de covid-19 obrigou a restrições da atividade económica e social para o controlo de uma doença que ainda não tem tratamento ou vacina. É vital que se evolua para a retoma faseada da atividade, que terá de conviver com o risco de uma nova propagação da doença. Mas o novo ‘normal’ só será sustentável se os riscos forem controlados. Enquanto não existir vacina continuaremos a viver em suspenso…

Lisboa – a câmara municipal, as juntas de freguesia, os profissionais de saúde, as forças de segurança, e demais trabalhadores que garantiram os serviços essenciais souberam reagir e adaptar-se a esta primeira fase e contaram com a adesão dos lisboetas às medidas de contenção.

Em Portugal, aproxima-se agora a segunda fase, correspondente à retoma gradual de algumas atividades, que será mais complexa pois decorrerá em simultâneo com a permanência da epidemia, evoluindo para um estádio de ‘normalidade’ que se manterá condicionado por muitos meses. No entanto, Lisboa tem especificidades que obrigam a um planeamento e respostas adequadas.

Lisboa tem um movimento pendular diário significativo, quase duplicando a população residente. Tem uma elevada densidade populacional no contexto nacional, tem uma percentagem de população idosa superior à média nacional e concentra uma parte substancial de empregos e de estabelecimentos de ensino. Os transportes públicos têm elevada procura, em particular nas horas de ponta. Por último, Lisboa é a principal porta de entrada de estrangeiros no país, residindo na atividade turística parte substancial da riqueza gerada na cidade.

Nas atuais circunstâncias, a retoma da atividade terá de ser acompanhada da adaptação de hábitos de segurança sanitária e de higiene e de modos de organização e de convívio. Para tal, a Câmara Municipal deverá ter um papel interventivo e liderante em todas as dimensões.

A primeira questão diz respeito à segurança sanitária, que passará a ser a questão central no sentimento comunitário. As máscaras têm de fazer parte do quotidiano de todos os cidadãos e por isso terão de estar disponíveis para todos e a preços acessíveis, a capacidade de testagem ao vírus deve ser aumentada e com maior celeridade na obtenção de resultados e a higiene do espaço público deve ser incrementada.

A população mais idosa deve merecer particular atenção, e o município, em articulação com as juntas de freguesia e as instituições sociais, deve assegurar medidas de proteção e apoio.

Os transportes terão de se adaptar, limitando a lotação, adotando práticas de higiene adequadas e impondo medidas de segurança sanitária.

Para as empresas e instituições privadas e públicas, comércio, escolas e lares, devem ser criados protocolos de organização que contemplem medidas de higiene e práticas de proteção individual, o desfasamento de horários de funcionamento deve ser previsto e implementado. E a economia local deverá merecer medidas de proteção, apoio e incentivo.

O setor do turismo será o último a recuperar e, considerando o seu peso na economia da cidade e nas finanças do município, esta realidade deverá merecer uma atenção particular.

O desafio que Lisboa tem pela frente é ainda mais exigente que o do país. O impacto económico desta crise na capital será particularmente severo. Face a estas circunstâncias, a Câmara Municipal terá de saber adaptar-se e reagir, devendo apresentar com urgência um plano de ação para esta nova fase, capaz de transmitir a confiança necessária para que os cidadãos regressem, responsavelmente, à atividade.