CGD. Já deram entrada mais de 20 mil pedidos de moratória de clientes particulares

Presidente do banco público diz que é “totalmente uma falácia” dizer que o custo do dinheiro é caro.

Já chegaram aos balcões da Caixa Geral de Depósitos mais de 20 mil pedidos de moratória dos clientes particulares, no valor de 1,4 mil milhões de euros. Já em relação às empresas, os pedidos não chegam aos 10 mil, num valor perto de mil milhões de euros. As contas foram reveladas, esta quarta-feira, pelo presidente da CGD, Paulo Macedo que está a ser ouvido no Parlamento, no âmbito da Comissão de Finanças.

O presidente do banco público disse ainda que a isto acrescem as moratórias disponibilizadas pela CGD, mas nessas não indicou o número de pedidos, referindo, contudo, que o banco tem uma quota pequena no crédito ao consumo, pelo que é “muito menor” a quantidade de moratórias que dará para operações de crédito ao consumo.

Paulo Macedo revelou também que está disponível para prolongar as moratórias de crédito à habitação, além dos seis meses, e previu que as imparidades vão aumentar em “milhares de milhões de euros”, uma vez que, que entende que não é em seis meses que se resolverá a atual crise provocada pela pandemia de covid-19. No entanto, o problema, lembrou que se for uma iniciativa isolada há o risco de os créditos abrangidos por essas moratórias terem de ser registados como crédito em incumprimento no banco e deixando essa marca no cliente. Ainda assim, admite que as instituições financeiras têm de se preparar para o aumento do crédito malparado, uma vez que, apesar de nos próximos meses estarem “imunizados pelas moratórias”, a crise vai prolongar-se.

O responsável chamou ainda a atenção que "é totalmente uma falácia dizer que o custo do dinheiro é caro" e dá como exemplo os juros que são cobrados às empresas pelas linhas de crédito. No caso das pequenas, os juros rondam 1,25% e são inferiores a 1% para as outras. 

"O problema não é o o custo do dinheiro e basta comparar com a anterior crise. Na anterior crise, o custo do crédito à habitação era de 5% e hoje é de 1,5%. Nas empresas anda à volta de 1% a 1,5%, consoante a sua dimensão e na anterior crise era de 4%", esclareceu Macedo aos deputados.

O presidente do banco público foi mais longe e lembrou que na anterior crise havia um problema de liquidez, o que fazia com que os bancos restringissem a concessão de crédito, mas agora garante que o cenário é outro. "Agora toda a banca quer dar crédito e até têm dupla liquidez".

No entanto, Paulo Macedo garante que neste processo de concessão de crédito é tido em conta todos os problemas relacionados com o risco. "Toda a actividade de crédito baseia-se na informação das empresas e onde é necessário avaliar o risco".

Em relação a esta segunda linha de crédito, cujas candidaturas abriram na sexta-feira, o presidente da Caixa diz que a maioria dos pedidos que entraram nesse dia já foram aprovados na sua generalidade. Mas lembra que "até o dinheiro cair na conta é um processo mais demorado". No entanto, acredita que este processo "será cada vez mais rápido e encurtado".  

E por ter liquidez e por "feito o trabalho de casa", Paulo Macedo garante que a Caixa tem de ter capacidade para apoiar as empresas que são viáveis. 

Cortar prémios

O presidente executivo disse também que irá aconselhar o adiamento e a redução de prémios dos administradores executivos e dos trabalhadores e que os dividendos não serão pagos agora ao Estado, mas que o assunto não fica fechado.

Questionado no parlamento sobre se este ano a CGD pagará prémios aos administradores relativos a 2019, Paulo Macedo disse que não há um valor determinado a pagar a cada administrador e que o que acontece é que a Comissão de Remunerações avalia a prestação de cada um com base em critérios (nomeadamente de cumprimento do plano de reestruturação) e decide o valor a atribuir.

No entanto, por sua iniciativa, a comissão executiva irá aconselhar que seja adiada a decisão sobre prémios para os administradores executivos e trabalhadores e que posteriormente também esses prémios sejam reduzidos.
“Iremos aconselhar que seja postecipada [adiada] a decisão, que não haja qualquer atribuição [de prémios] nesta assembleia-geral (…), que possa haver postecipação e redução”, afirmou Paulo Macedo.

Já Paulo Macedo irá abdicar integralmente do seu prémio, esclareceu fonte oficial da CGD, uma vez que as declarações do gestor durante a audição parlamentar deixaram dúvidas.

“A Comissão Executiva irá manifestar a sua intenção de diferir e/ou reduzir o prémio da Comissão Executiva e dos colaboradores. No caso do presidente executivo abdicou integralmente do seu prémio”, disse fonte oficial.
Já sobre os dividendos da CGD, afirmou que o que vai acontecer é que não serão propostos dividendos na próxima assembleia-geral, mas explicou que “o Estado não perde direito aos dividendos” e que a qualquer momento pode decidir que os dividendos são distribuídos. “O assunto não fica fechado, o acionista pode fazer uma assembleia-geral para este fim único”, afirmou.

Estava previsto que, relativamente a 2019, a CGD entregasse em dividendos cerca de 300 milhões de euros ao Estado.