Confinamento e amor

Aviso prévio: este depoimento não pretende servir de exemplo a quem quer que seja, até porque o autor tem consciência da situação de privilégio em que vem desfrutando a sua experiência.

por Vicente Jorge Silva
Jornalista

Nunca li Enamoramento e Amor, o best-seller de Francesco Alberoni, mas a sonoridade da expressão e aquilo que ela própria sugere levaram-me a trocar enamoramento por confinamento, porventura a palavra mais obsessivamente repetida nos dias que correm, e enquadrar assim a minha própria e muito pessoal experiência num apartamento em Lisboa, acompanhado apenas pela mulher com quem estou casado há mais de vinte anos. Aviso prévio: este depoimento não pretende servir de exemplo a quem quer que seja, até porque o autor tem consciência da situação de privilégio em que vem desfrutando a sua experiência. Mas num momento de tanta desorientação e polémicas por vezes absurdas (nomeadamente sobre a necessidade ou não de confinamento para evitar o contágio do coronavírus), julguei oportuno partilhar, se for possível, o sentido dessa experiência.

Vivo num apartamento demasiado amplo para ser habitado por apenas duas pessoas, mas quando o estado de emergência começou só a minha mulher e eu aqui nos encontrávamos, enquanto a restante família se dispersava por vários confinamentos em Lisboa e na Madeira. Receámos os constrangimentos dessa ‘prisão’, até porque estaríamos juntos vinte e quatro horas sobre vinte e quatro, com excepção das idas esporádicas ao supermercado ou à farmácia da nossa rua, algumas vezes em comum. Outro pormenor pressionante e propício à ansiedade: faço parte dos chamados «grupos de risco», por causa da idade (74 anos) e da doença (tenho cancro).

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