Função pública. Governo admite falhar aumentos salariais para 2021

César das Neves e Ferraz da Costa, em entrevistas ao SOL, já tinham lamentado que esta discussão estivesse a ser feita em altura de pandemia.

Há risco de o Governo não cumprir a promessa de aumentos salariais de, pelo menos, 1% na administração pública, no próximo ano. O alerta foi dado pela ministra da Administração Pública, no Parlamento, ao lembrar que houve uma “grande alteração das circunstâncias” face à pandemia do novo coronavírus, estando o cumprimento desse compromisso dependente do estado em que estiver a economia portuguesa. “É muito prematuro tomar uma posição sobre esta matéria”, revelou Alexandra Leitão.

Este risco já tinha sido admitido tanto pelo primeiro-ministro como pelo ministro da Economia, face aos efeitos da covid-19 na economia nacional, em que as previsões do Fundo Monetário Nacional não são animadoras, ao prever uma recessão de quase 8% e uma taxa de desemprego na ordem dos 14% para este ano.

Em entrevista ao SOL, o economista João César das Neves lamentou que nesta fase se estejam a discutir aumentos salariais para 2021. “ Acho que não é altura para falar nisso. É uma tolice. Claro que está tudo a colocar-se, isso já são jogadas, mas que não mostram grande elevação de valores. No meio desta confusão, estarmos a falar disso não me parece nada razoável. Mas isso só mostra o poder que esses grupos têm. Esse é o drama que nos deu cabo do Orçamento durante décadas e que é estrutural na economia. Essas entidades têm o poder e a arrogância do poder, o que é extraordinário. O país está com uma epidemia, as pessoas estão a morrer e há uns senhores preocupados com o seu bolsinho no próximo ano. É incrível”.

A opinião é partilhada por Ferraz da Costa, que defende que “não se deve continuar a tratar os trabalhadores do setor privado pior que os do setor público”, admitiu em entrevista ao SOL.

 Recorde-se que este ano foi pago aos funcionários públicos um aumento de dez euros para os salários até 683,13 euros e de 0,3% para os restantes trabalhadores. Estes aumentos foram pagos, pela primeira vez, em abril (com retroativos), mas nem todos os funcionários públicos – nomeadamente os da saúde, tal como o i avançou – viram os seus salários aumentados. No entanto, ontem, Alexandra Leitão confirmou que esta operação deverá ficar concluída em maio.