Um texto que não pretendia ser sobre a pandemia. Mas é

Conseguimos prever muita coisa e o comportamento humano é estudado evolutivamente permitindo-nos tirar algumas conclusões, mas a grande pergunta que, enquanto profissional da comunicação, faço é: o que vai mover e interessar daqui para a frente?

O momento histórico que estamos a passar não nos deixa muita margem de manobra para outros temas.
Tudo na nossa vida está neste momento relacionado ao covid-19. Começando pelo óbvio, a saúde, e seguindo pela vida pessoal, amorosa, familiar, social e profissional. E por essa busca de equilíbrio ou de novo normal que ninguém, na verdade, sabe sequer o que é. 

No que toca então às marcas, à comunicação, aos consumidores, ao investimento publicitário e à criatividade tudo tem sido escrito e as teoria, mais ou menos coincidentes, são mais que muitas. 

E por muito que nos suportemos em estudos, históricos e comparativos com outros momentos de crise, a realidade é que não fazemos ideia do que vai acontecer.

Conseguimos prever muita coisa e o comportamento humano é estudado evolutivamente permitindo-nos tirar algumas conclusões, mas a grande pergunta que, enquanto profissional da comunicação, faço é: o que vai mover e interessar daqui para a frente?

Podemos mesmo dizer que essa é a one million dollar question de todo este cenário.

Se há quem defenda que vamos valorizar mais o que é importante, que nos vamos recentrar e mudar comportamentos em linha com uma abordagem mais sustentável e solidária, também há quem ache que passado o principal momento de choque as pessoas vão-se centrar ainda mais nelas, numa profunda e egoísta vontade de aproveitar cada minuto, porque nunca se sabe o dia de amanhã.

Se há quem ache que o consumo vai abrandar, que as pessoas vão comprar menos e mais o que precisam, incrementando muito o desafio das marcas de serem relevantes, pertinentes, necessárias e desejadas; há quem, por outro lado, considere que o regresso à normalidade pode passar por uma ilusão de liberdade de comprar o que bem apetecer. Tudo obviamente enquadrado numa crise económica brutal que não permitirá que essa liberdade exista como hoje a projetamos.

O que percebemos portanto é que há dois lados de uma moeda e que ambos podem ter argumentos que o justifiquem, ainda que as tendências possam apontar mais para um ou para outro. 

Acima de tudo percebemos que vamos durante uns tempos navegar à vista. Ser prudentes nas decisões e praticar mais do que nunca uma flexibilidade importante para que nos adaptemos à realidade. 

Navegar à vista torna-se assim a melhor estratégia? Não sabemos responder, mas sabemos que por agora é o que temos e é neste constante limbo diário que vamos descobrindo o tal novo normal. Estes são os desafios que temos no nosso setor (e nos outros também) e aos quais queremos responder para que a pandemia deixe de ser o contexto e passe a ser um novo texto.

 E que quando saibamos exatamente o que é esta ‘normalidade’, a saibamos viver sintonizados num mundo melhor e mais preparados para as pandemias que dizem que ainda vêm por aí. 

*Diretora Criativa Havas Sports& Entertainment