Não percebo o encarniçamento de algumas pessoas contra o Acordo.
Falam dele do alto da sua cátedra, como se fossem especialistas da língua e o Acordo tivesse sido feito por curiosos ou ignorantes.
Ora o Acordo, é preciso recordá-lo, foi feito por académicos, com competências específicas na matéria.
Dá-me assim vontade de rir quando certas pessoas que não conseguem escrever duas frases seguidas se põem a criticar o Acordo com ar superior.
E é profundamente ridícula aquela nota que alguns colunistas de jornais fazem questão de colocar no fim dos seus textos dizendo «Este artigo não respeita as regras do Acordo Ortográfico».
Devem achar que é chique.
Que os faz entrar no grupo dos bem-pensantes, dos intelectuais que percebem do assunto.
O meu pai era historiador da língua portuguesa e autor de um dos mais importantes livros que se escreveram sobre o tema: a História da Literatura Portuguesa, em coautoria com Óscar Lopes.
Ora, quando começaram a ser conhecidos os termos do Acordo Ortográfico, com muita gente a ridicularizá-lo, fui a casa dele e perguntei-lhe o que achava do assunto – certo de que arrasaria o Acordo.
Pois, para meu espanto, respondeu-me: «Oh Zé, o mais importante é que os portugueses e os brasileiros façam um esforço de entendimento para que as duas escritas não divirjam muito. Agora, escrever uma palavra assim ou assado não tem importância nenhuma».
Foi para mim uma lição.
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