Um passo atrás para conter casos em Lisboa

Governo aperta medidas nas freguesias com mais casos, em particular nas áreas urbanas de Sintra, Odivelas e Loures. Volta o limite máximo de 10 pessoas em ajuntamentos e punições apertam.

A análise epidemiológica identificou as freguesias com mais casos e o Governo decidiu atacar o foco na Área Metropolitana de Lisboa, que desde o início do desconfinamento ganhou preponderância no país, com um passo atrás no relaxamento das medidas. O primeiro-ministro tinha assumido que, havendo necessidade, não hesitaria em fazê-lo, e nos últimos dias surgiram sinais de preocupação com o crescente relaxamento, em particular de jovens. Se, há uma semana, os centros comerciais dos distritos de Lisboa e Setúbal puderam reabrir, apesar de se manter a trajetória crescente de casos na região, o primeiro-ministro anunciou ontem uma resposta mais localizada, ao mesmo tempo que serão reforçadas as equipas de saúde pública. Os concelhos de Amadora e Odivelas, por haver menor separação geográfica, e outras 15 freguesias dos concelhos de Sintra, Loures e Lisboa voltam esta terça-feira a ter mais restrições. O comércio fecha às 20h00 e a partir dessa hora só os restaurantes podem funcionar, só para servir refeições. “Bebidas, não há”, disse António Costa, indicando que será reforçada a proibição de consumo de álcool na via pública, ao mesmo tempo que haverá um reforço das forças policiais no terreno. Após a reunião do gabinete de crise que envolveu autarcas da Área Metropolitana de Lisboa e a autoridade de saúde, António Costa adiantou ainda um novo quadro punitivo – matérias que foram alvo de discussão em conselho de ministros. 

O critério, explicou António Costa, foram as freguesias com mais casos mas em que existe transmissão comunitária, excluindo-se freguesias em que os casos foram sobretudo associados a focos em lares. Além de Amadora e Odivelas, o primeiro-ministro identificou, nos concelho de Loures, as freguesias de Camarate/Apelação e Sacavém/Prior Velho. Na Linha de Sintra, já tinham sido identificadas como mais problemáticas as freguesias de Queluz-Belas ou Agualva-Cacém. 

Casos aumentam fora de Lisboa No balanço de ontem, o boletim da DGS confirmou 259 novos casos, 164 na região de Lisboa e 71 na região Norte, o número mais elevado das últimas semanas. O i tentou perceber o que motivou este aumento, mas não teve resposta. O São João já tinha levado, no entanto, o Porto a apertar medidas. No balaço da última semana, Lisboa registou até uma primeira diminuição de novos casos face às semanas anteriores. Da última segunda-feira até ontem foram detetados 1798 casos na região de Lisboa, contra 1906 na semana anterior. No Norte registaram-se 223 novos casos, o que se compara com 169 na semana anterior. A diferença é ainda mais marcada no Alentejo e no Algarve, onde foram detetados surtos com uma dimensão que até aqui não se tinha registado no sul no país. No Alentejo, a maioria dos novos casos estão associados a um surto em Reguengos de Monsaraz e, no Algarve, à festa organizada em Odiáxere, que já foi ligada a 111 casos. O i tentou perceber junto da DGS quantos casos importados de Lisboa foram detetados no resto do país, mas não foi possível ter resposta. Este domingo, o presidente da Câmara Municipal de Ovar, que na sexta-feira revelou que um dos últimos casos detetados em Ovar foi uma importação de Lisboa, defendeu medidas mais fortes na capital, considerando “falta de coragem” não se lhe impor uma cerca sanitária. Já ontem, Ovar, que esteve várias semanas sem novos casos, anunciou mais três casos no concelho. O primeiro-ministro respondeu sublinhando que as medidas agora traçadas têm o efeito útil da cerca sanitária sem as consequências no comércio e no trabalho, já que as pessoas poderão ir trabalhar normalmente e os espaços comerciais continuarão abertos.

O novo regime de punições anunciado pelo Governo estende-se a todo o país, mas o limite de dez pessoas nos ajuntamentos na via pública só regressa na Área Metropolitana de Lisboa. Será também reforçada a fiscalização nos centros comerciais, nos estaleiros de construção civil e nos transportes coletivos, disse o primeiro-ministro. Ficou também assente na reunião do Governo com os autarcas da Área Metropolitana de Lisboa que o estado de calamidade deverá ser prorrogado nestes concelhos e zonas em particular, uma decisão apontada para o Conselho de Ministros da próxima quinta-feira. Para amanhã está marcada a reunião de peritos no Infarmed e, no fim de semana, António Costa disse que as decisões sobre se o estado de calamidade será levantado a partir de 1 de julho começarão nessa análise.

No briefing diário da DGS, o secretário de Estado da Saúde sublinhou que, neste momento, não existe uma pressão excessiva nos hospitais. Apesar do aumento de internamentos, António Lacerda Sales afirmou que apenas metade das camas dedicadas à covid-19 estão ocupadas. Em termos de cuidados intensivos, a nível nacional existe uma ocupação de 63% e apenas 21% das camas estão ocupadas por doentes com covid-19, tendo as outras doentes de outras patologias. “Esta capacidade é expansiva e supletiva”, garantiu Lacerda Sales, reforçando o apelo ao cumprimento das orientações: “Uma coisa é a capacidade de resposta à pandemia, outra é a capacidade da sociedade de travar a propagação. Desconfinar não é relaxar nem desresponsabilizar. Temos a obrigação de continuar a cuidar uns dos outros”.

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