O Seninho morreu e, mais uma vez, ficamos perante a incredulidade de ver morrer alguém que era tão cheio de vida. Quem se lembra de o ver no campo, correndo como o vento, diria que era impossível a morte apanhá-lo. A morte ou qualquer um. Sobretudo um desgraçado chamado Arthur Richard Albiston, nascido em Edimburgo, Escócia, há 62 anos, que deve ainda ter os olhos trocados depois das noites de terror que teve de viver no Estádio das Antas, no dia 19 de outubro de 1977, e em Old Trafford, Manchester, quinze dias mais tarde, no dia 2 de Novembro.
A eliminatória entre o FC Porto e o Manchester United para a edição desse ano da Taça dos Vencedores de Taças ficará para sempre dependurada como uma fotografia na sala mais bonita da casa do futebol português. Depois veio a lenda: que os dirigentes do Cosmos de Nova Iorque tinham vindo à Europa para seguir a equipa portista e o seu grande maestro, António Oliveira, e que desiludidos com as intervenções deste nas partidas contra os ingleses, se deixaram encantar por um tal de Arsénio Rodrigues Jardim, natural de Sá da Bandeira, Angola, onde veio ao mundo no dia 1 de julho de 1949, tendo desaparecido da face da Terra no último dia 4 de julho. As lendas valem o que valem, e o futebol americano já não era assim tão amador que estivesse disposto a dar de barato meio milhão de dólares por um jogador que não era, afinal, o escolhido de antemão. O próprio Seninho, numa entrevista concedida ao Record, em fevereiro de 2004, mostrou uma visão diversa do episódio: «Segundo me disse depois o Pelé, eles já me conheciam, pois tinham vindo a Portugal ver alguns jogos, mas ninguém soube. No final do jogo, fiquei a saber que os olheiros do Real Madrid, Atlético Madrid, AC Milan e até mesmo o próprio Manchester United, tinham gostado da minha exibição. Fiquei naturalmente entusiasmado. Mas foi na manhã seguinte ao jogo de Manchester que o representante do Cosmos me colocou uma proposta fabulosa à minha frente. Meio milhão de dólares (o que era 20 mil contos nessa altura) e um contrato para três anos. Era mesmo muito dinheiro para aquela época e aceitei de imediato, mas também avisei que tinha uma entidade patronal que tinha o direito de opção sobre o meu passe e que teria primeiro de falar com o FC Porto. Tive algumas dificuldades em sair do FC Porto, mas a situação acabou por se resolver para bem de todas as partes».
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