132 mil infetados sem sintomas

Inquérito serológico sugere que 300 mil portugueses já estiveram infetados, 44% sem sintomas. Imunidade populacional nos 2,9%.

132 mil infetados sem sintomas

Já são conhecidos os resultados do Inquérito Serológico Nacional, concluído a 8 de julho. Como o i já tinha avançado, os testes de anticorpos feitos a uma amostra representativa da população apuraram uma prevalência de 2,9%, o que permite estimar que 300 mil portugueses já terão estado infetados, seis vezes mais do que os casos diagnosticados. O estudo conduzido pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, e que contou com uma amostra de 2301 portugueses, apurou que cerca de 44% das pessoas com anticorpos específicos contra o novo coronavírus não referiram qualquer sintoma anterior de covid-19, resultado em linha com o que tem sido descrito noutros estudos que mostram uma percentagem elevada de casos assintomáticos. Cerca de 132 mil portugueses terão assim estado infetados sem qualquer um dos sintomas associados à infeção, desde logo os sintomas habituais de uma gripe como febre, tosse e dificuldade respiratório, mas também a perda de olfato e paladar.

Ana Paula Rodrigues, coordenadora do inquérito, apresentou os principais resultados na conferência de imprensa da Direção Geral da Saúde, sublinhando que a prevalência de anticorpos na população portuguesa é baixa e que não se sabe ainda se a imunidade é duradoura ou se o objetivo de atingir a imunidade de grupo é atingível. "O objetivo de todas as medidas de saúde pública é limitar a circulação do vírus a um nível basal, o que significará menor exposição do vírus", explicou.

O estudo não detetou diferenças significativas na incidência por faixa etária, o que significa que as crianças têm sido infetadas na mesma proporção que os adultos, e também a nível geográfico não foi apurada uma diferença considerada relevante. A região de Lisboa apresentou ainda assim uma prevalência ligeiramente superior ao resto do país, com 3,5% da população com anticorpos para o vírus. 

Foi detetada uma maior seroprevalência nos homens, apesar de desde o início da epidemia ter havido mais casos documentados em mulheres do que em homens (28 285 vs 22 787), o que poderá ter a ver com os homens tenderem a procurarem menos cuidados de saúde. Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa a partir dos dados dos primeiros 20 mil casos já tinha também relevado um maior risco de morte entre os homens, o que também poderá ter a ver com o mesmo fator, admitiu ao i Paulo Nogueira, um dos autores. Este estudo concluiu que a idade avançada é o fator de maior risco, sendo que pré-condições como doença cardíaca e renal aumentam também o risco, o que não se verificou com a diabetes, que era a doença de base mais comum nos primeiros doentes.