Anastásia e Anna. A falsa filha do czar

Durante anos houve quem alimentasse a história de que a segunda filha mais nova de Nicolau II e Alexandra sobrevivera à carnificina de Yakaterinburg. Uma polaca, filha de operários, aproveitou a lenda para viver à custa dos crédulos.

Dspojada do trono pela Revolução Bolchevique de 1917, a família do czar Nicolau II, os Romanov, passou a ter o destino traçado. O facto de partilhar as suas origens com mais duas dúzias das grandes famílias russas, de poderes ilimitados até ao advento da chegada de Vladimir Ilyich Ulyanov, mais conhecido por Lenine, à estação de Petrograd Finlândia, no mês de abril, causava incómodos graves à nova conceção de poder que tinha chegado para mudar o futuro da Humanidade. As fortes ligações do antigo czar – Nicolau era primo direito de Eduardo VII de Inglaterra e de Guilherme II da Alemanha – impediram, de alguma forma, que este fosse liquidado logo após ter caído do trono. A verdade é que a família real se tornou para os comunistas uma daquelas grandessíssimas estuchas de que falava o divino Eça. Porque ainda criava no povo russo determinadas sensações de uma velha opulência perdida e porque a sua manutenção como corte significava um rombo bastante significativo numa economia fortemente depauperada pela guerra.

A história do assassinato dos Romanov dá guita para romances infindos, de cordel ou não. Mas também é, simplesmente, a abertura deste texto e não o seu objetivo. Adiantemo-nos portanto. No dia 1 de Março de 1918, foram tomadas uma série de medidas significativas em relação aos Romanov. A mais significativa de todas foi a de os retirarem do palácio real de Tsarksoe Selo, nos arredores de Sampetersburgo e de os desterrarem para Yakaterinburg, na região de Sverdlovsk, na margem do rio Iset e para lá das montanhas do Cáucaso, onde a Europa e a Ásia fazem fronteira. Todos os criados foram dispensados. Nicolau foi absolutamente proibido de usar farda e, com a esposa Alexandra e os filhos Maria, Alexei (que sofria gravemente de hemofilia), Olga, Tatiana e Anastasia, transferido para uma casa de campo, a Casa Ipatiev (nome de um antigo grande comerciante da região), sob supervisão de um ex-comandante do Exército Vermelho, Vasily Vasilyevich Yakovlev. Os Romanov passaram a ser obrigados a fazerem por si próprios todas as tarefas domésticas que o pessoal menor costumava fazer por eles. Confiante que acabariam por ser recolhidos pelo seu primo Guilhermer, o kaiser, como exilados, Nicolau levava um quotidiano tranquilo de jardinagem e de leitura, ignorando que fora simplesmente transportado para a antecâmara da morte.

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