Negócio de avanços e de recuos

Foi em setembro de 2019 que a Cofina avançou com a intenção de compra da Media Capital. Quase um ano depois o negócio não aconteceu, mas o grupo de Paulo Fernandes volta à carga.

A Cofina e a Media Capital tinham dado um tempo, mas o casamento, afinal, ainda pode acontecer – ainda que as hipóteses sejam remotas. Isto porque a Cofina continua  a querer comprar a dona da TVI e anunciou a modificação da oferta pública de aquisição (OPA) sobre a totalidade do capital social da Media Capital que tinha sido preliminarmente anunciada no dia 21 de setembro do ano passado e que estava em stand-by desde março, altura em que a dona do Correio da Manhã deixou cair por terra o negócio.

O grupo liderado por Paulo Fernandes avança que o valor de referência proposto na OPA de 0,415 euros por ação, corresponde a um valor total de 35.072.969,70 euros, considera um enterprise value de cerca de 130 milhões de euros e foi considerado em maio, pela Promotora de Informaciones S.A., maior acionista da empresa, «uma avaliação acima das estimativas do mercado efetuadas pelos analistas (…) tendo implícitos múltiplos superiores aos das empresas FTA».

O SOL já tinha avançado, aliás, que a dona do CM ainda mantinha o interesse na Media Capital e, na opinião de Pedro Amorim, analista da corretora Infinox, a justificação deste interesse só pode ser uma: «Estamos a falar das duas maiores empresas com o mesmo negócio, bastante concorrenciais. Acredito que é apenas uma jogada psicológica para o mercado ver que o Grupo Cofina é sólido e capaz de fazer aquisições à concorrência», diz ao SOL. 

Uma opinião que, em parte, justifica a ideia do grupo liderado por Paulo Fernandes: «A aquisição da Media Capital pela Cofina integra-se na estratégia de consolidação dos media no plano global, mantendo-se no essencial a atividade destas sociedades e das sociedades que com estes estejam em relação de domínio ou grupo, permitindo potenciar o investimento na expansão digital, o lançamento de serviços inovadores e a promoção e desenvolvimento de conteúdos produzidos em Portugal, mantendo-se a Media Capital como um ativo com identidade portuguesa».

O analista contactado pelo SOL acredita mesmo que a OPA tem apenas um objetivo: «Aumentar o mediatismo destas duas empresas».

Mas quais são as mudanças desta vez? Em primeiro lugar, o valor. Quando a 21 de setembro  do ano passado a Cofina anunciou que tinha chegado a acordo com a espanhola Prisa para comprar a totalidade das ações que detém na Media Capital, valorizou a empresa em 255 milhões de euros, valor que entretanto baixou 50 milhões de euros devido às audiências e resultados da TVI. A mesma justificação que Pedro Amorim encontra agora para a baixa de valor até aos 130 milhões de euros. E não tem dúvidas: «Não acredito que a Media Capital ‘caia tão baixo’ e aceite essa proposta».

Mas pode haver um outro entrave: a Prisa está disposta a vender a sua participação de 64% na Media Capital por um valor mínimo de 36,8 milhões de euros, 67,6 cêntimos por ação, avança o Jornal Económico. No entanto, este valor está 63% acima dos 41,5 cêntimos por ação que a Cofina propõe.

Mas há mais condições. A Cofina só está mesmo disposta a pagar os 0,415 cêntimos por ação, por isso, a oferta apenas será alargada aos 94% do capital detidos pela Prisa e Mário Ferreira se o auditor «não fixar um valor unitário de contrapartida que exceda» esse valor.

Além disso, até à conclusão da operação não pode ter lugar a venda ou oneração de ativos da Media Capital. No caso, a TVI, a Plural Entertainment Portugal, a Plural Entertainment Espanha ou a Media Capital Rádios.

Nas condições é ainda explícito que «até à data e em resultado da liquidação física e financeira da oferta, o oferente se torne titular das ações representativas de mais de 50% do capital da visada».

Sem restrição na entrada de novos acionistas 
A verdade é que esta OPA modificada não vai impedir a entrada de Cristina Ferreira como acionista da Media Capital. Pelo menos é o que garante a CMVM, ao referir que a «oferta não implica nenhuma restrição à transmissibilidade de ações, pelo que de qualquer dos acionistas pode vender antes e independentemente da OPA». Mas não só: «Qualquer terceiro pode comprar ações em mercado ou fora de mercado». 

Recorde-se que, no mês passado, quando Cristina Ferreira anunciou o regresso à TVI, manifestou a intenção de ser acionista da Media Capital.

Pedro Amorim considera que Mário Ferreira, uma vez que detém 30% da Media Capital, pode bloquear a operação de compra «principalmente pelo mediatismo que tem junto dos outros acionistas».
Se o casamento vai ou não acontecer, não se sabe. Agora, está nas mãos da Media Capital.