Segunda vaga ameaça crescimento da economia

Atividade económica recuperou em julho e endividamento da economia aliviou dos níveis recorde que tinham sido atingidos. Mas economistas continuam em estado de alerta.

O futuro crescimento da economia portuguesa está dependente da existência ou não de uma segunda vaga da pandemia. Apesar da atividade económica começar a dar alguns sinais de melhoria, ainda que a recuperação esteja a ser feita de forma muito lenta, os analistas contactados pelo SOL garantem que ainda não estamos em altura de ‘suspirar de alívio’. 

E os dados falam por si: depois de fortes quedas, a atividade económica começou a recuperar gradualmente em julho. «A informação disponível revela uma contração menos intensa da atividade económica em julho, quando comparada com o mês anterior», disse, esta semana, o Instituto Nacional de Estatística (INE) ao referir que o indicador de clima económico aumentou entre maio e julho, após ter atingido em abril o valor mínimo da série. A recuperação foi transversal a todos os setores de atividade, mas foi mais significativa na indústria transformadora.

Também o endividamento do setor não financeiro desceu mais de cinco mil milhões de euros em junho, aliviando do recorde fixado no mês anterior e de cinco meses seguidos a subir. Segundo os dados do Banco de Portugal, o endividamento da economia portuguesa atingiu 735,4 mil milhões de euros em junho, o que compara com o máximo histórico de 740 mil milhões de maio. 

Mas, apesar desta redução, o endividamento da economia portuguesa agravou-se para 360% do Produto Interno Bruto (PIB), o que compara com 340,8% em março.

Francisco Alves, analista da corretora Infinox, considera que a situação do coronavírus está «cada vez mais controlada, dando algum espaço para a economia respirar e poder recuperar o terreno perdido». Em  relação às perspetivas para os próximos meses, admite que espera, naturalmente, resultados progressivamente mais positivos, mas lembra que tudo depende da possibilidade de uma segunda vaga. «No pior cenário, poderá levar a economia global para níveis mais abaixo do que chegou no pico da pandemia», revela ao SOL.

Também Ricardo Evangelista, analista sénior da ActivTrades, lembra que «depois do choque inicial do confinamento, a tendência tem sido para que, progressivamente, a atividade económica recupere». E apesar de reconhecer que a doença ainda não está controlada, admite que a necessidade de restabelecer uma certa normalidade continua a impor-se. «Por outro lado, julho é um mês em que muitas pessoas estão de férias e isso também terá contribuído para uma melhoria no setor do alojamento e restauração, um dos mais significativos dentro do âmbito da economia portuguesa».

Crescimento gradual mas lento
O analista aponta para uma continuação da recuperação económica, em que mês após mês se devem registar melhorias. Mas deixa um alerta: «A análise homóloga face aos mesmos períodos de 2019 deverá continuar também a dar mostras de uma quebra generalizada, já que a recuperação se prevê lenta». E vai mais longe: «A contração económica foi muito forte no segundo trimestre e espera-se que, em 2020, a quebra venha a ser de cerca de, pelo menos, 7% face ao ano anterior», acrescentando que «é natural que, com o retomar da atividade económica, os números continuem a melhorar relativamente aos meses mais duros de abril e maio. No entanto, continuar-se-á também a registar uma quebra face aos períodos homólogos do ano anterior».

Também Gonçalo Caeiro, da XTB, admite que este trimestre vai ter um impacto muito significativo na balança comercial no país. O comércio e os serviços equivalem a 74,8% do PIB português e, com a retoma da economia e com o país num período de férias, espera-se uma recuperação também no setor das PME. 

«Iremos ter um período de retoma lenta e para minimizar o impacto da pandemia», prevê. E defende que «este trimestre é crucial para a recuperação. Tudo depende da confiança e do consumo interno. É fundamental que as empresas retomem a atividade na sua totalidade e que as pessoas recuperem os seus postos de trabalho. Acreditamos que este trimestre irá atenuar as previsões que se faziam no primeiro trimestre do ano». 

Recorde-se que a indústria transformadora foi o setor que mais se destacou na recuperação económica. Mas não é caso isolado. O setor da construção e obras públicas também recuperou, refletindo «o significativo contributo positivo de ambas as componentes, apreciações sobre a carteira de encomendas e perspetivas de emprego», justificou o INE. No comércio também houve um aumento «expressivo» sobre o volume de vendas, interrompendo as perspetivas negras que marcavam o indicador desde abril. Já no caso dos serviços, «o comportamento do indicador no último mês resultou do contributo positivo de todas as componentes, perspetivas sobre a evolução da procura, opiniões sobre a atividade da empresa e apreciações sobre a evolução da carteira de encomendas».