Uma ‘ópera-bufa’ do PCP na Atalaia…

Assistiu-se à montagem de uma autêntica ‘ópera-bufa’, em três atos, na Quinta da Atalaia, com encenação do PCP e da DGS, cantada  a várias vozes, segundo o libreto de Jerónimo de Sousa…

Mesmo com lotação física reduzida a metade do anunciado, no somatório dos três dias da festa da Quinta da Atalaia, o PCP ‘mandou às malvas’ os princípios em matéria de saúde pública, para arrecadar mais uns milhões livres de impostos, e forrar os cofres com dinheiro fresco. 

Conseguiu, no entanto, que o evento merecesse um destaque invulgar. E para quem discorda já tem um rótulo, que é o "ódio fascizante". A cartilha gasta do PREC voltou a sair do baú. 

Para chegar a este ponto, o PCP contou com a permissividade do governo, que se desdobrou em lamentáveis exercícios de acrobacia política, para justificar o injustificável em tempo de pandemia. 

Para quem se interrogava sobre o que faria o PCP com os milhares de EPs já vendidas e que, obviamente, excediam a lotação permitida, a resposta ‘criativa’ do partido foi continuar a vender bilhetes, convertidos em ‘gestos de apoio’. E como é feito o controlo das entradas no recinto desde ontem? E como sabem os militantes se entram ou ficam à porta? Mistério. 

Trapalhadas à parte, foi necessária a intervenção do Presidente da República, a lamentar a opacidade da Direção-Geral de Saúde para esta mudar de atitude e revelar, finalmente, as regras negociadas com os comunistas, não sem antes ter emitido um comunicado kafkiano a recusar-se a fazê-lo. 

Lesta a impor severas restrições noutras atividades – comerciais, desportivas, culturais, lúdicas, sociais ou religiosas -, a DGS, tornou-se timorata e só tardiamente divulgou o ‘parecer técnico’, após um lastimável ‘jogo de empurra’, como se fosse ‘segredo de Estado’.

 

A realização desta romaria comunista no Seixal, agredindo o mais elementar bom senso, é uma vergonha, envolvendo o Ministério da Saúde e a sua DGS, que pactuaram com a hipocrisia, ao validarem um festival multidisciplinar como se fosse um simples entreato político. Bem pode Marta Temido entoar o hino da ‘Internacional’…

É um comportamento contraditório, que põe em causa as atuações das autoridades contra ‘ajuntamentos’, e que vai marcar a governação socialista, com consequências epidemiológicas imprevisíveis, embora, haja o que houver, o PCP e o Governo jamais assumam quaisquer responsabilidades. 

Ao despertar do sono profundo em que se tem mantido na oposição, andou bem Rui Rio ao considerar que "a insensata DGS está pura e simplesmente a gozar com todos nós. Em democracia, pior era impossível". 

Apesar de tudo, Rio foi benevolente. Faltou-lhe dizer que, antes da DGS, é o Governo que está a gozar connosco. Porque numa matéria tão sensível, é impossível Graça Freitas ter agido sem a cobertura politica da ministra da Saúde e do primeiro-ministro. 

Assistiu-se à montagem de uma autêntica ‘ópera-bufa’, em três atos, na Quinta da Atalaia, com encenação do PCP e da DGS, cantada a várias vozes, segundo o ‘libreto’ de Jerónimo de Sousa, que, antes de abandonar o palco, logrou atrair uma inédita repercussão para a nova peça. 

No elenco, reconhecem-se várias divertidas figuras, incluindo um cómico do regime, que ficou patético, desde que perdeu a graça e não deu por isso. Haja quem pague para assistir…

 

Entretanto, estrategicamente, e para poupar os comunistas a mais incómodos, o Conselho de Ministros anunciou que todo o país ficará em estado de contingência a partir de 15 de setembro. 

Note-se que a decisão governamental ‘preventiva’, não esteve ancorada, que se saiba, em nenhum estudo prospetivo, mas, apenas, na presunção de que poderemos vir a sofrer um recrudescimento da epidemia, o que já acontece em vários países europeus. 

Mas, a existir tal receio, aliás legítimo, porque não se adotam mais cedo essas medidas? A explicação formal é o regresso às aulas nessa data. A realidade, porém, é que assim não se estraga a Festa do Avante!…

Ou seja, uma eventual ‘segunda vaga’ ficará à porta no Seixal… com dezenas de portas fechadas de restaurantes, cafés e afins, cujos proprietários preferiram o prejuízo a exporem-se – e aos empregados e clientes – a um eventual contágio. Uma ‘bofetada de luva branca’… 

Até lá, a faturação do PCP fala mais alto. Os números são, de facto, elucidativos. Segundo a revista Sábado, a Entidade Reguladora das Contas e Financiamentos Políticos (ECFP) – à qual compete monitorizar eventos como este -, estima que circulem no recinto da festa entre 4 e 7 milhões de euros, em dinheiro vivo, constituindo-se na principal fonte de financiamento do partido.

É um partido comunista rico, note-se, tanto em fundos patrimoniais e ativos, como em ‘dinheiro em caixa’. Este ‘filme’ é menos conhecido e poderá explicar melhor a pressão do PCP para não afetar os ‘lucros do exercício’, ainda que tudo o aconselhasse a desistir, para não facilitar a propagação do vírus.

Quando um governo autoriza a uns o mesmo que proíbe a outros, ficamos a um passo da linha vermelha que separa o regime democrático de um regime de ‘faz de conta’. 

 

Neste contexto, ‘percebe-se’ o destempero com que António Costa destratou os médicos, e a sobranceria de que deu mostras ao contratar para chefe de gabinete um ex-assessor económico de Sócrates, arguido no ‘Galpgate’ e ouvido como testemunha na Operação Marquês. 

António Costa comporta-se como quem ‘pode, quer e manda’, afável e sorridente em público, colérico em privado, quando as coisas não lhe correm de feição. 

A debilidade da sociedade civil e a inexistência de oposição, à esquerda ou à direita, facilitam-lhe o estilo soberbo. Depois, não lhe faltam amigos ‘à mão de semear’ a quem entregar dossiês sensíveis, em nome do Estado, para negociar. Há ministros que, mesmo humilhados em público, não se importam… 

 

Nota em rodapé – Os ecos do Champions de futebol em Lisboa – a tal ‘prenda’ de António Costa, oferecida "aos profissionais de saúde" -, esgotaram-se em pouco tempo. Fica para a História a crónica de um evento sem história, entronizado em Belém como se fosse um acontecimento, quando se limitou a cumprir o calendário da UEFA, de estádios vazios. Um remendo à pressa. 

 

Nota em rodapé 2 – A Cinemateca esteve fechada durante meses, por causa do estado de emergência. Reabriu depois com novas regras e o público correspondeu, esgotando a sala e a esplanada em várias sessões. Estranhamente, voltou a fechar em agosto para um "interregno de Verão". Alguém percebeu? É isto serviço público?