O futuro da Europa

A passada semana foi preenchida por mais uma forte operação de destruição da Europa por parte dos EUA. Neste caso, ela consistiu em duas suboperações paralelas: uma, de ataque direto à Rússia e, outra, de ataque simultâneo à Rússia e, especialmente, à Alemanha.

A primeira suboperação visava a transformação da Bielorrússia numa nova Ucrânia, isto é, na fragmentação das comunidades eslavas que haviam integrado o antigo Império Russo e a sua utilização como plataforma territorial para um futuro ataque nuclear à Rússia. O plano norte-americano de partir a Rússia em múltiplos estadinhos ‘independentes’ e submissos, em curso desde os anos 90 do século passado, continua ainda em plena execução, com a cumplicidade de uma União Europeia frágil e lacaia e a participação de um grupo de países nela integrados mas diretamente dependentes dos EUA, como a Polónia e os Bálticos e outros mais a sul, como a Roménia e a Bulgária. É aquilo a que chamam o grande corredor do Báltico até ao Mar Negro.

A segunda suboperação, desencadeada pelo ‘acidente Navalny’, visa fazer ajoelhar a Alemanha face à exigência dos EUA da não execução do gasoduto Nord Streem 2 que levará (ia) grandes quantidades de gás natural diretamente da Rússia para a Alemanha através dos fundos do Mar Báltico. Para além de assegurar o fornecimento ininterrupto de todo o gás para as indústrias e cidades alemãs sem interferências externas, essa infraestrutura consolidaria a perspetiva de uma cooperação de longo prazo entre o principal país da União Europeia com a Rússia e, portanto, de um desenvolvimento pacífico entre as partes.

Para além de querer deixar a Europa refém dos seus fornecimentos de gás natural através de navios (bem mais oneroso), os EUA querem uma Europa fraca e dependente face aos seus planos futuros de guerra contra a Rússia e a China.

A Alemanha ficou ‘nas mãos’ dos americanos desde a segunda guerra mundial. Tentou recuperar a sua autonomia através da reunificação (inclusão da RDA) e de uma maior integração europeia à sua volta, designadamente pela criação do Euro e de um polo financeiro autónomo (europeu continental) com influência mundial, assim como pela expansão das suas capacidades tecnológicas e industriais.

A Alemanha não apoiou os EUA na guerra do Iraque (como não apoia, hoje, o termo do tratado nuclear com o Irão, como querem os EUA); a chanceler Merkel foi espiada pessoalmente, durante anos, pelos americanos; em 2008, os EUA lançaram a ‘crise financeira’ para deitar abaixo o sistema financeiro centrado no Euro; lançaram a operação Ucrânia no espírito do ‘f… the EU’; mantêm na sua posse e controlo mais de metade  das reservas de ouro alemãs; aplicam sansões às empresas e entidades alemãs que participam no Nord Streem; enfim, tratam como colónia a maior potência europeia que ‘desejaria’ ter um papel no mundo.

Desde o início que a União Europeia tem sido controlada diretamente pelos norte-americanos através dos seus agentes deste lado do Atlântico (Barroso, Rumpoy, etc.); há anos que a Alemanha procura ‘limpar’ um pouco essa dominação das instituições europeias pelos agentes americanos. Não é tarefa fácil, já que eles ‘entram’ através da influência americana sobre os governos de países e sobre partidos políticos…

Conseguirá a Alemanha descolonizar-se e ‘construir’ uma União Europeia autónoma, ou ficaremos como uma terra a ser queimada numa futura guerra dos EUA conta a Rússia?

E qual o papel de Portugal no meio disto tudo? Tudo indica, pelo estilo e orientação do atual ministro dos negócios estrangeiros ‘socialista’, que Portugal, ‘mamando’ dinheiro da Alemanha para manter as cliques no poder, permanecerá, segundo um ‘guru nacional em geopolítica’ (Carlos Gaspar), bem integrado «na NATO e na União Europeia», «sem alternativa isolacionista, e muito menos uma alternativa lusófona», como um bom lacaio dos EUA. É pena que não apareça suficiente ‘gente normal’ disposta a colocar em primeiro lugar os interesses nacionais!