Plano outono/inverno. Doentes com queixas respiratórias vão ter locais próprios de atendimento

Ministério da Saúde apresentou ontem o plano de resposta para o outono/inverno. Locais dedicados ao atendimento de casos suspeitos de covid-19 vão passar a receber queixas respiratórias no geral. Manter resposta aos outros doentes é um dos objetivos. Em Lisboa e no Porto vão ser definidos hospitais “covid free”.

Nos próximos meses, todos os doentes com queixas respiratórias deverão passar a ser vistos em locais próprios, separados dos locais de atendimento de doentes com outro tipo de sintomas. A medida, que se aplicará nos centros de saúde e hospitais, faz parte do plano integrado de resposta para o Outono/Inverno, divulgado ontem pelo Ministério da Saúde. Depois de nos últimos meses terem funcionado nos centros de saúde as chamadas Áreas Dedicadas à Covid-19, e também os hospitais terem implementado circuitos diferenciados, nomeadamente nas urgências, os espaços serão agora transformados em Áreas Dedicadas para Doentes Respiratórios.

O plano prevê outras medidas para agilizar a resposta, não só dos doentes com queixas respiratórias mas também aos outros casos, numa altura em que o objetivo é evitar suspensão de consultas e cirurgias programadas, como aconteceu durante o estado de emergência. O Governo aponta para um reforço das cirurgias de ambulatório, com alta em 24 horas (de preferência no próprio dia) e prevê que antes de uma cirurgia agendada os doentes sejam encaminhadas para locais fora dos hospitais para fazer as habituais avaliações antes da operação, eventuais exames ou o próprio teste ao SARS-Cov-2, em modelo “drive-trought”. Nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, quando se começar a verificar pressão sobre os serviços hospitalares, o que o Ministério da Saúde descreve como a fase 2 de resposta, estarão definidos hospitais que tratam doentes covid-19 e unidades “COVID-19-free”, que enviarão os doentes com sintomas respiratórios para os locais de atendimento próprios nos centros de saúde e nas urgências.

É positivo, falta operacionalizar A apresentação do plano, que acabou por surgir no último dia do verão, era esperada já esta semana, mas no setor mantém-se alguma apreensão com as próximas semanas.

Filipe Froes, pneumologista e coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos, que ontem de manhã reforçou o repto para que a estratégia fosse tornada pública e recomendou ao Governo a criação de uma coordenação nacional de gestão de vagas em cuidados intensivos, considera positiva a divulgação do plano, mas defende que falta a operacionalização e lamenta que esse processo só agora avance de forma articulada. “É positivo. Foi a primeira intervenção do novo Secretário de Estado Adjunto e da Saúde (António Lacerda Sales foi promovido na semana passada) e vejo-o como o um sinal de um novo dinamismo e empenho. Devíamos ter tido esta estratégia em junho, para estar a ser operacionalizada em agosto e estar no terreno agora”, diz o médico, dando o exemplo dos novos ADR, onde terão de ser feitos investimentos para garantir maior capacidade de atendimento e separação de doentes,, para diminuir o risco de exposição ao vírus e não perpetuar cadeias de transmissão.

Para Filipe Froes, o reforço da capacidade laboratorial é essencial nesta fase e a utilização de testes rápidos incontornável. No plano, prevê-se a definição de uma estratégia sobre em que circunstâncias e com que finalidade deverão ser usados os diferentes tipos de teste. Depois de a Cruz Vermelha ter anunciado no fim de semana que está disponível para disponibilizar 500 mil testes rápidos, António Lacerda Sales sublinhou ontem que a menor sensibilidade dos chamados testes rápidos é uma condicionante, até porque pode ser necessário um teste molecular para confirmar se um negativo o é mesmo, mas admitiu que poderão ser uma mais-valia num contexto de escassez de recursos e agravamento da situação epidemiológica, nomeadamente na resposta a surtos em lares e escolas. O secretário de Estado Adjunto e da Saúde indicou que ainda ontem ia decorrer uma reunião de trabalho entre DGS, Instituto Nacional de Saúde (INSA) e DGS para avaliar a fiabilidade dos testes disponíveis no mercado, cuja maior percentagem de falsos negativos tem suscitado reservas. Já para esta terça-feira está agendada uma reunião com a Cruz Vermelha. Filipe Froes lamenta a demora na avaliação de testes que estão no mercado “há vários meses” e têm vindo a ser adotados por outros países. “O que está aprovado lá fora dificilmente não é aprovado pelo INSA. As autoridades italianas adquiriram por exemplo um teste a partir da saliva, que demora cinco minutos. É o melhor teste do mundo? Provavelmente não. Mas nós não queremos o melhor teste do mundo, queremos um teste que nos diga para a maior parte das pessoas se são infecciosas e num espaço de tempo útil para quebrar cadeias de transmissão”, diz o médico, que considera que a capacidade de testagem e resultados em intervalos de tempo mais curtos do que tem acontecido até aqui serão essenciais para que as atividades laborais e escolares possam manter-se e para o próprio funcionamento dos serviços de saúde, nomeadamente para a resposta nas novas áreas dedicadas a doentes respiratórios. “Se uma ADR de um hospital tiver de ter doentes internados mais de 24 horas à espera de resultados, haverá maior risco de contraírem a infeção”.