Santa ingenuidade!

Ora, por muito que se chame fascista ou nazi a André Ventura, nunca o vi elogiar Mussolini ou Hitler…

Um destes dias assisti por acaso na TVI 24 a um debate sobre a direita. Apresentados os intervenientes, só reconheci um: Miguel Morgado, militante do PSD.

Havia também um militante do CDS e outro da Iniciativa Liberal, cujos nomes não retive.

Interroguei-me: e o representante do Chega?

Pouco depois de iniciado o debate, o militante do CDS disse achar «muito bem» que o Chega não estivesse presente – e um dos jornalistas que moderavam o debate esclareceu tratar-se de uma «decisão editorial».

E eu pasmei: uma decisão editorial?

Será que estou a ouvir bem?

Um responsável de uma estação televisiva nacional toma a decisão de excluir de um debate sobre a direita um partido de direita com representação parlamentar e que, nas sondagens, surge hoje destacado à frente do CDS e da IL?

Excluir com base em quê?

Com que base objetiva se exclui o Chega de um debate sobre a direita?

As opções editoriais passaram a ser arbitrárias, ao gosto de quem as toma?

Pergunto: e por que razão, num debate sobre a esquerda realizado esta semana, a TVI incluiu o BE e o PCP?

A verdade é que ambos são contra o sistema, são ambos contra o nosso modelo de sociedade, reclamam-se ambos de uma doutrina antidemocrática.

Mais: um tem como fundador e conselheiro um trotskista confesso e o outro nunca renegou Estaline.

São dois partidos inspirados, pois, em figuras sinistras.

Ora, por muito que se chame fascista ou nazi a André Ventura, nunca o vi elogiar Mussolini ou Hitler…

O mais engraçado é que, nesse debate sobre a direita, os intervenientes passaram metade do tempo a falar do Chega.

Ou seja: podia falar-se à vontade do Chega, referir as características e objetivos do Chega, comentar-se a estratégia do Chega, mas o Chega não podia participar.

Os intervenientes consideravam o Chega suficientemente importante para lhe dedicarem um largo espaço na discussão, mas o próprio Chega não tinha autorização para se pronunciar!

Não sei quem está agora à frente da informação da TVI nem quem tomou a decisão.

Mas, seja quem for, é alguém que não percebe um princípio elementar: o jornalismo não se faz com opções ideológicas – faz-se com liberdade editorial.

Os meios de comunicação que sacrifiquem a liberdade à ideologia estão a condenar-se a prazo.

A TVI e outros canais que, por equívoco ou ignorância, sigam este caminho, estão a prestar um péssimo trabalho à informação, à democracia… e a si próprios.

Estão a confirmar que fazem censura – pois a expressão ‘decisão editorial’ mais não significa do que uma forma elegante de dizer ‘censura’.

E agora, na campanha presidencial, o que irá a TVI fazer?

Já pensou?

Convidará ou não Ventura para participar nos debates?

Fará ou não reportagens dos seus comícios?

Por ‘decisão editorial’ cobrirá os comícios de alguns candidatos e deixará de cobrir os de outros?

A TVI iniciou um perigoso caminho.

E aqueles três militantes que aceitaram participar num debate sobre a direita que excluiu o Chega não o deviam ter feito.

No fundo, mostraram uma certa cobardia.

Mostraram medo de serem vencidos pelo Chega num debate livre.

O fruto proibido é sempre o mais desejado.

Quanto mais marginalizarem o Chega, quanto mais o silenciarem, quanto mais o ostracizarem, mais ele crescerá.

Quanto mais o sistema político se fechar sobre si próprio, mais pessoas se afastarão para as franjas.

Não é varrendo o Chega para debaixo do tapete que as pessoas deixarão de votar nele.

O Chega cresceu, exatamente, porque trouxe ao debate político temas que os partidos tradicionais tinham medo de tratar.

Tolhidos pelo politicamente correto, o CDS, o PSD e o próprio PS foram entregando à extrema-esquerda a liderança da agenda política – e com isso deixaram um larguíssimo espaço à direita para alguém explorar.

André Ventura não inventou nada: limitou-se a dizer alto o que muitas pessoas diziam baixinho, limitou-se a exprimir o pensamento de muita gente que não se sentia representada no discurso dos partidos tradicionais.

O Chega tem duas coisas que os outros partidos da direita não têm: um líder forte e coragem para falar de assuntos incómodos.

E isso dá-lhe uma vantagem enorme.

Se Ventura não fizer muitas asneiras (e ultimamente fez algumas), terá uma votação histórica.

Uma última nota nota: marginalizar o Chega num debate, e convidar a Iniciativa Liberal, que teve os mesmos votos há um ano, é tratar de forma diferente os portugueses que votaram num e noutro.

É dizer que uns têm direito a fazer-se ouvir através de um seu representante e os outros não têm esse direito.

Ora, isso viola uma das mais básicas regras da democracia, segundo a qual todos os eleitores são iguais.