‘Geringonça II’ sem luz ao fundo do túnel

Primeiro-ministro quer segurar parceiros de esquerda para a legislatura, designadamente, o BE, mas pode não ter sucesso.

O pedido de novo ‘casamento’ à esquerda foi feito no debate do Estado da Nação. O primeiro-ministro, António Costa, queria que os parceiros da geringonça da anterior legislatura aceitassem uma «uma base de entendimento sólida e duradoura». Mas tanto o Bloco de Esquerda como o PCP colocaram uma lista longa de cadernos de encargos. Mais, os bloquistas não se cansaram de dizer que quem não quis um acordo escrito para a legislatura foi o PS.

Em Bruxelas, antes do Conselho Europeu, o primeiro-ministro recordou esta semana que não há margem para crises políticas. «Já chega a crise sanitária, mais a crise económica, mais a crise social. Não precisamos de uma crise política a acrescentar a isto tudo». O cenário de crise política tem sido referido várias vezes pelo Governo. Do lado do Bloco de Esquerda, o discurso é claro e crítico desta estratégia: «Muita concretização e menos jogo de palavras. Jogo político, chantagens, isso não interessa a ninguém», avisou Catarina Martins na passada quinta-feira à margem uma visita à Liga Portuguesa contra o Cancro, em Lisboa. 

As reuniões ao mais alto nível entre António Costa e o BE foram retomadas esta semana, tal como houve um encontro entre o primeiro-ministro e o líder do PCP, Jerónimo de Sousa. Algo que já não acontecia há meses, depois dos comunistas terem optado por reuniões de trabalho mais técnicas. Do lado do Governo, Costa tentou envolver os seus parceiros da anterior legislatura para o Orçamento de 2021 e testar um acordo para a legislatura. Mas só o terá feito com o BE ( avançou o Observador). O aceno de um acordo foi inconclusivo até porque os bloquistas têm-se desdobrado em declarações públicas a lembrar que falta cumprir várias medidas acordadas nos orçamentos de 2019 e de 2020. Ou seja, fica claro que do lado do BE a ideia não colou, sobretudo, porque há menos de um ano, os socialistas disseram não a um acordo escrito, depois do PCP também ter dito que não estava disponível para assinar mais nenhum papel. Este histórico deixou, claramente, marcas.

Já os comunistas têm dito que um cenário de crise artificial, aventado por Costa, mas também pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não os comove: «Acho que a ameaça de crise política que foi criada artificialmente a partir de várias intervenções do primeiro-ministro e Presidente da República são apenas isso: são ameaças de crise política criadas artificialmente e isso, sinceramente, não nos comove», declarou João Oliveira, líder parlamentar do PCP, citado pela TSF.