OE 2021? CR7 testou positivo!

A proposta de Orçamento e as reações dos partidos com assento parlamentar continuaram a dominar a agenda noticiosa, mas nos rodapés das televisões já só apareciam  informações sobre o que estava a acontecer na Cidade do Futebol 

A semana começou com a apresentação da proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2021.

Um diploma decisivo para o futuro do país, num momento particularmente crítico.

Mas, no dia que começou com a imprensa concentrada no Terreiro do Paço e na apresentação das principais opções do Executivo para o próximo ano pelo ministro João Leão e sua equipa, eis que da Cidade do Futebol chega a notícia de que a conferência de imprensa de Fernando Santos e de um dos seus selecionados (com a antevisão do encontro do dia seguinte frente à Suécia) fora adiada, tal como o treino da manhã.

A proposta de Orçamento e as reações dos partidos com assento parlamentar continuaram a dominar a agenda noticiosa, mas nos rodapés das televisões já só apareciam  informações sobre o que estava a acontecer na Cidade do Futebol (entrara uma carrinha de um laboratório de análises clínicas com dois batedores da GNR à frente no complexo do Jamor) e aguardava-se que a Federação Portuguesa de Futebol prestasse esclarecimentos públicos.

O ‘alerta mundial’ foi dado pela CMTV: Cristiano Ronaldo testara positivo para SARS-CoV2. Depois de José Fonte e de Anthony Lopes, era o terceiro jogador da Seleção infetado pelo novo coronavírus.

E, pronto, foi quanto bastou para que todas as prioridades da informação imediatamente se transferissem do Terreiro do Paço para a Cidade do Futebol, com os comentadores do costume a serem chamados de urgência aos estúdios das TV’s, virando agora especialistas em infecciologia, epidemiologia, em medidas preventivas ou terapêuticas, em métodos de análise ou testagem e tudo o mais relacionado com a pandemia.

O Presidente da República veio também comunicar ao país, a partir de Bruges, que já tinha desejado as melhoras ao capitão da Seleção Nacional. Marcelo Rebelo de Sousa não esperou sequer pela conferência de imprensa de Fernando Santos e antecipou-se a anunciar que podia confirmar que Cristiano Ronaldo estava positivo mas assintomático e que igualmente falara com os responsáveis da Federação Portuguesa de Futebol e os restantes jogadores da Seleção haviam testado negativo. E Marcelo concluiu essa sua ‘mensagem’ garantindo que, no dia seguinte, lá estaria a torcer por Portugal no jogo com a Suécia.

As ações da Juventus na bolsa italiana caíram a pique com a notícia da testagem positiva da sua estrela maior. Mas do clube de Turim nem uma reação imediata.

Por ironia, Cristiano Ronaldo quebrara a quarentena decretada após dois funcionários do clube italiano terem testado positivo para se juntar aos trabalhos da Seleção Nacional para esta dupla jornada (com a França e com a Suécia) da fase de grupos da Liga das Nações.

O teste positivo de Cristiano Ronaldo correu mundo a uma velocidade impressionante.

Dois dias antes, também o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior testara positivo e obrigara dois outros ministros (o do Planeamento e a da Segurança Social) a sujeitarem-se a isolamento, mesmo testando negativo, por terem estado sentados ao lado de Manuel Heitor durante o Conselho de Ministros da quinta-feira anterior.

Ora, não obstante Cristiano Ronaldo ter testado positivo e de ter publicado na sua página de Facebook uma fotografia do jantar da véspera com todos os colegas de Seleção (Pepe mesmo a seu lado) e com distâncias manifestamente incumprindo os mínimos exigidos pelas recomendações das autoridades de saúde, ninguém, além do próprio capitão, ficou em isolamento nem, que se saiba, foi ponderado o adiamento do encontro com a Suécia.

A testagem positiva de CR7 marcou a agenda mediática nacional. A notícia da contaminação do ministro da Ciência e do Ensino Superior foi um fogacho.

O Orçamento do Estado para 2021 vai continuar a ser notícia. Sobretudo porque a pandemia da covid-19 e o impacto na economia e na vida de todos nós vai ser brutal.

Se mesmo um superatleta como Cristiano Ronaldo ou um ministro da Ciência não deixam de estar expostos ao vírus – como, aliás, o Presidente dos Estados Unidos ou o primeiro-ministro britânico, embora tanto Donald Trump como Boris Johnson tenham sido acusados de terem menosprezado o vírus e os cuidados preventivos –, o que dizer do cidadão comum?

E muito poucos têm a possibilidade de testar ao ritmo a que o fazem o Presidente da República, o primeiro-ministro e seus ministros ou os jogadores de futebol, ou podem beneficiar de comparáveis condições de tratamento ou de acompanhamento médico.

A segunda vaga da covid-19 está aí. E a situação dos hospitais portugueses e dos profissionais de saúde é a que é. E a situação da economia e das finanças públicas é a que é.

Neste cenário, negro, fica difícil entender como podem o primeiro-ministro e o ministro das Finanças dizer tranquilamente que o Orçamento de Estado para 2021 é bom para o país e para os portugueses.

Com a despesa pública a bater recordes e a carga fiscal a continuar a apertar o garrote aos contribuintes individuais e às empresas?

É por isso que há que chutar para canto.

O que importa o OE 2021 quando CR7 testou positivo?