Vale do Sousa Norte tenta travar aumento de casos sem cerca sanitária

Primeiro-ministro reuniu-se com os autarcas de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira. Novos limites nos estabelecimentos e desfasamento de horários serão opções sem medidas mais duras. Hospitais do Norte começam a ter de cancelar cirurgias. 

A zona do Vale do Sousa Norte, que abrange os concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira, onde na última semana se registou a maior incidência de novos casos de covid-19 por 100 mil habitantes, vai ter novas medidas para conter a epidemia mas não será implementada uma cerca sanitária ou confinamento. A indicação foi dada ontem pelo primeiro-ministro no final de uma reunião de urgência com os autarcas da região, que já tinham mostrado preocupação com a evolução do número de casos.

No final do encontro, António Costa disse não haver necessidade de implementar as medidas mais drásticas. O ministro da Administração Interna admitiu no dia anterior que medidas como cerca sanitária ou limitações a atividades económicas podem ser aplicadas no atual estado de calamidade. Já a ideia de confinamentos locais também já foi colocada em cima da mesa ao longo dos últimos meses, mas como último recurso. O primeiro-ministro adiantou que houve consenso sobre novas medidas a adotar, indicando que serão anunciadas em breve. “Agora, falarei com os meus colegas do Governo para que as medidas sejam formalizadas”, disse, citado pelo JN.

Segundo o i apurou, as medidas poderão ser aprovadas já no conselho de ministros desta quinta-feira. Durante o fim de semana, o presidente da Câmara Municipal de Lousada propôs restringir atividades não essenciais. Já no alerta dirigido à população, as autoridades locais de saúde desaconselharam a realização de eventos e encontros de natureza religiosa, associativa e empresarial ou desportiva que pudessem levar a um grande aglomeração de pessoas e também de festas e convívios familiares ou comemorações como casamentos, batizados e comunhões. Este tipo de celebrações, salvo outras autorizações por parte da DGS, está sujeito a um limite de 50 pessoas. Apelaram também à primazia ao teletrabalho e desfasamento de horários, medidas que neste momento vigoram apenas nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. E pediram que fosse cumprida a regra de um máximo de cinco pessoas por mesa nos restaurantes e cafés. O leque de medidas a aplicar pode assim ser ampliado sem necessidade de medidas mais duras. A cerca sanitária foi apenas aplicada em Ovar e em Câmara de Lobos, no início da epidemia, em que a transmissão estava de resto mais contida. Apesar de os concelhos com maior incidência de novos casos por 100 mil habitantes na região serem Paços de Ferreira e Lousada, de acordo com a atualização de dados feita pela Direção Geral da Saúde na última semana houve também uma subida mais expressiva dos novos casos em concelhos como Paredes e Penafiel.  .

Nos últimos dias, o Centro Hospitalar Tâmega e Sousa reforçou o alerta, indicando que o aviso feito pelo agrupamento de centros de saúde de Lousada, Felgueiras e Paços de Ferreira se estende aos restantes 12 concelhos na sua área de influência. Um dos principais apelos foi para que as pessoas só recorram à urgência em caso de gravidade. Fonte hospitalar explicou ao i que uma das dificuldades tem sido a elevada procura para realizar o teste à covid-19, estando a ser ativados pontos de rastreio fora do ambiente hospitalar.

Hospitais começam a cancelar cirurgias

Segundo o i apurou, no Centro Hospitalar Tâmega e Sousa já foi necessário começar a cancelar atividade programada para responder à necessidade de internamento de doentes. Apesar de o Hospital de Penafiel ser agora a unidade com maior pressão na região Norte, também ontem o Hospital de Vila Nova de Gaia teve de cancelar cirurgias programadas para aumentar a capacidade de internamento em cuidados intensivos para doentes com covid-19.

Fonte hospitalar explicou ao i que as 12 camas de cuidados intensivos reservadas para uma resposta à covid-19 na primeira fase foram todas ocupadas e foi necessário alocar abrir uma nova ala com nove camas, que habitualmente estão dedicadas a cuidados pós-anestésicos, o que ontem implicou o cancelamento das primeiras três cirurgias e uma redução da capacidade operatória daqui para a frente.. O hospital continua a poder expandir o número de camas de UCI até às 47, implicando sempre a suspensão de atividade cirúrgica programada. A pressão começa a aproximar-se do que se registou em março e o hospital também já apelou à população para só recorrer às urgências em caso de necessidade. No São João, que já tinha ampliado na semana passada a área de cuidados intensivos e enfermaria dedicada a doentes com covid-19, ainda não foi necessário cancelar atividade programada. Na atual fase do plano de contingência, poderão vir a reduzir 20% das cirurgias programadas em função do aumento de doentes internados nos próximos dias: ontem eram 70 no total, 25 dos quais em cuidados intensivos (mais do dobro em relação ao início da semana passada). Em entrevista à RTP, o responsável pela unidade de gestão de urgência e medicina intensiva do Centro Hospitalar e Universitário de São João, Nelson Pereira, explicou esta quarta-feira que se fosse necessário internar mais 15 doentes seria necessário começar a suspender alguma atividade. Na semana passada, em declarações ao SOL, o médico alertou para a necessidade de a população compreender o risco atual e adotar comportamentos mais seguros para prevenir infectar-se a si e aos seus familiares, falando de uma transmissão disseminada na comunidade.

Ontem, o secretário de Estado da Saúde Diogo Serras Lopes indicou que a taxa de ocupação das enfermarias reservada para a covid-19 se situa nos 72% a nível nacional, sendo de 76% na região Norte. Em cuidados intensivos, é de 71% e também de 76% no Norte. “O aumento de casos verificado nas últimas semanas coloca, e continuará a colocar, uma pressão significativa sobre todo o sistema de saúde e, em particular nesta fase, sobre a saúde pública”, afirmou Diogo Serras Lopes, sublinhando que o sistema está agora melhor preparado, com mais recursos humanos e equipamentos, e que por outro lado tem havido uma diminuição do tempo médio de internamento destes doentes.

Segundo o i apurou,  também nos hospitais de Lisboa está a ser preparado o alargamento de capacidade com alocação de novas áreas a doentes com covid-19 e alguma diminuição, ainda pontual, na capacidade para atividade programada, que nos meses de verão – com menos casos de covid-19 – os hospitais conseguiram começar a recuperar depois da suspensão ne consultas e cirurgias não urgentes nos primeiros meses de epidemia.