O presidente do Chega, André Ventura, enviou esta terça-feira uma carta aos dirigentes regionais do partido nos Açores, definindo as exigências a fazer ao PSD para a abertura de negociações com vista à criação de condições para a nova maioria parlamentar de direita viabilizar um Governo Regional liderado pelo PSD.
Na carta, a que o i teve acesso, André Ventura apela à calma e a “não alimentar a especulação nas redes sociais ou na imprensa”, mas acaba por definir as condições indispensáveis para “qualquer conversa com o PSD”: 1 – A participação [do PSD] no processo de revisão constitucional em curso; 2 – O compromisso de redução, nos quatro anos de legislatura, para metade, dos beneficiários de RSI na Região Autónoma dos Açores; 3 – O compromisso de apresentação de um plano regional de luta contra a corrupção e clientelismo na Região dos Açores no prazo de um ano.
Sem estas condições aceites pelo PSD, não há conversas.
Recorde-se que, no passado domingo, as eleições legislativas regionais dos Açores resultaram no fim da maioria absoluta do PS na região e numa minoria da esquerda no Parlamento Regional, abrindo espaço para uma possível “geringonça” à direita.
E logo na noite eleitoral, no rescaldo da eleição de dois deputados do Chega (com 5,06% dos votos), André Ventura afastou a possibilidade de o seu partido contribuir para uma solução governativa liderada pelo PSD: “Estamos totalmente indisponíveis para nos entendermos com os partidos do sistema”.
Isto depois de José Manuel Bolieiro, líder do PSD-Açores, anunciar que está disponível “para assumir a presidência do Governo Regional dos Açores, desde que seja essa a vontade da Assembleia Legislativa Regional dos Açores” (que passou a ter uma maioria de direita).
E, assentada a poeira da eleição, a direita mexe-se para analisar a possibilidade de uma coligação que ponha em marcha um Governo liderado pelo PSD nos Açores, com o apoio do CDS, do Chega, do Iniciativa Liberal e do PPM. André Ventura, com os seus dois deputados, é uma das chaves para este desafio.
Na carta enviada aos dirigentes regionais do partido, e a que o i teve acesso, o líder do partido reitera o seu desagrado com o “afastamento por parte do PSD em relação ao Chega” e denuncia o que considera tratar-se de “sinais de cumplicidade com o Partido Socialista”.
O presidente e porta-voz do partido relembra ainda os dirigentes regionais dos riscos de uma possível coligação “laranja”, pondo em causa a integridade do partido caso se aliasse ao PSD – e, portanto, à “direita do sistema que sempre nos ignorou ou atacou”.
Ventura aproveitou também para atacar o CDS por colocar “o ónus do falhanço da ‘geringonça de direita’ nas mãos do Chega”.
Recorde-se que, em julho passado, Rui Rio admitia “conversar” com o Chega, mas só se o partido evoluísse para uma “posição mais moderada”. Ventura, na altura, respondeu dizendo que só aceitaria conversações com os sociais-democratas se o dirigente do PSD deixasse de ser “a dama de honor do Governo socialista”.