Temos de matar o homem negro!

Num debate recente sobre ‘o racismo e o avanço do discurso do ódio no mundo’, organizado pelo canal online Pensa Africanamente, o senhor Mamadou Ba afirmou ser necessário «matar o homem branco». 

«A intencionalidade é a marca característica da consciência».
E. Husserl

1.Temos de matar o homem negro. Para evitarmos a nossa morte cultural, histórica e social, para evitarmos a morte do sujeito político branco, é preciso matar o homem negro assassino, que nos quer colonizar, nos discrimina. O que digo é evidente para quem quiser perceber o contexto. Não há forma de combater o fantasma que nos quer atormentar sem acabarmos com a ideia de uma inferioridade branca.*

Temos de expulsar o negro que trouxemos e continuamos a acolher no nosso seio. Temos de o expulsar das nossas consciências, da nossa vida, do nosso território mais íntimo. De deixar de cultivar as suas acusações infames, remorso absurdo que não há razão, nem material, nem histórica, nem moral, nem nacional, nem pessoal para alimentarmos. 

Afugentemos esse diabo que nos assombra e limita. Libertemos a nossa História dele. Não o deixemos impedir-nos de a contarmos aos nossos filhos como os nossos pais no-la contaram, de a ensinarmos nas nossas escolas.

Libertemo-nos desse passado imaginado que não vivemos. Complexo de culpa injustificado que nos impede de construirmos os nossos museus, de erguermos as estátuas aos nossos heróis, de os homenagearmos de cabeça erguida.

Libertemo-nos da tirania do homem negro ávido de esmagar o nosso ser. Desse homem negro que é hoje ameaça de nos matarmos uns aos outros. É tempo de todos gozarmos a paz, a liberdade e a justiça na nossa terra. 

Acabemos com o homem negro, com essa realidade fenomenológica, demónio que assombra o nosso presente e nos quer roubar o futuro.

2.Entre as causas mais nobres, a do antirracismo é a mais nobre. 

Num debate recente sobre ‘o racismo e o avanço do discurso do ódio no mundo’, organizado pelo canal online Pensa Africanamente, o senhor Mamadou Ba afirmou ser necessário «matar o homem branco». 

Explicaria (mal) posteriormente ao jornal i o sentido das suas afirmações, evocando-lhes o contexto e referindo (mal) o livro de Franz Fanon, Os Condenados da Terra. Ora, a tese de Fanon é, na verdade, uma justificação da violência e do terror na luta de libertação colonial, e mesmo um incentivo à sua prática. Evidência que, aliás, é confirmada pelo Prefácio de Sartre. 

No Estado civilizado antirracista que é Portugal, o autoproclamado antirracismo de Mamadou Ba gera mais racismo. 
Por isso, o seu ativismo tem de ser enfrentado. Tem de ser travado intelectual, política e moralmente. E, se for caso disso, pela firme aplicação das leis.

Neste artigo, uso uma metáfora. Convido MB para um encontro público em que eu explique a minha metáfora e ele a dele. 

* Parágrafo em itálico: transcrição das declarações de Mamadou Ba ao jornal i, substituindo apenas praticamente ‘branco’ por ‘negro’ e ‘supremacia branca’ por ‘inferiorização branca’. E uso a metáfora que Fanon, referindo-se ao homem branco, não usou.