Lisboa paga milhões e perde exclusivo do Web Summit

Tóquio será palco da Web Summit em 2022, dois meses antes do evento em Lisboa. E Paddy Cosgrave já está a desenhar réplicas da cimeira para outras cidades. 

O anúncio foi feito por Paddy Cosgrave através de um comunicado da sua empresa, a Connected Intelligence Limited (CIL): vai ser lançada uma edição da Web Summit no Japão, em setembro de 2022, que vai decorrer dois meses antes da edição lisboeta. A escolha, diz Paddy Cosgrave, faz todo o sentido: «O Japão é o país perfeito para albergar a Web Summit. Durante décadas foi o líder global da inovação, criando algumas das mais sofisticadas e avançadas tecnologias que usamos hoje», refere na nota o também mentor do evento tecnológico.

No entanto, a ideia é que a cimeira continue a realizar-se em Lisboa ­– e vai passar a chamar-se Web Summit Lisbon –, mais não seja porque há um contrato assinado com o Governo e com a Câmara Municipal de Lisboa, que representa um investimento de 11 milhões de euros por ano, no total de 110 milhões de euros.

Só que Cosgrave mostrou a necessidade de criar réplicas do evento noutras partes do mundo, tal como vai então acontecer no Japão em 2022. A organização do evento justifica o lançamento de uma réplica da Web Summit em Tóquio com a necessidade de expandir para outras regiões do globo. «Encontrei-me com vários líderes políticos e de negócios do Japão. É notório que o Japão está determinado a reforçar a sua economia de startups. Trazer milhares de empreendedores, diretores executivos e líderes globais de vários pontos do mundo para Tóquio vai possivelmente dar suporte a esta visão (do Governo) do Japão», refere Paddy Cosgrave em comunicado.

Mas estas não são as únicas novidades anunciadas pelo irlandês. Também em 2022 vai existir um evento no Brasil, com duas cidades, neste momento, a disputar a conferência: Porto Alegre e Rio de Janeiro. Já o evento Rise – que até aqui se realizava em Hong Kong – vai passar a realizar-se na Malásia, em Kuala Lumpur.

No que diz respeito a este assunto, João Pedro Costa, vereador social-democrata na autarquia, diz ao SOL que «Lisboa não tem nenhum contrato de exclusividade, mas sim para acolher o evento anual da Web Summit».

O vereador explica que o contrato inicial «não contempla nenhum exclusivo para toda a atividade nem nenhuma empresa global o faria, seria mesmo contranatura». Assim, «o objeto é o evento anual e o que me preocupa é que esse evento sirva para alavancar a passagem de Lisboa para a 1.ª divisão das feiras internacionais e atrair muitas mais». É que para isso, diz, «falta a ampliação da FIL. Continuo sem perceber porque Fernando Medina e António Costa têm tudo parado. Passaram quase dois anos e estamos na mesma».

O SOL tentou uma reação da Câmara de Lisboa sobre a Web Summit em Tóquio, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.

Mas enquanto 2022 não chega, as perspetivas para o próximo ano, depois de um ano atípico como 2020, são as melhores. Pelo menos é essa a esperança de Cosgrave, que admitiu que quando a pandemia já não for uma ameaça tão significativa, o evento poderá ocorrer em formato híbrido – online e presencialmente. «Em 2021, os recintos terão as mesmas dimensões (de hoje), mas acredito que podemos juntar às 70 mil pessoas que estão em Lisboa as 70 mil pessoas que assistem pela internet», disse o responsável.

Três dias de sucesso online mas sem o mesmo brilho

A pandemia de covid-19 trouxe várias alterações no mundo. Inicialmente pensou-se que a Web Summit poderia realizar-se em formato híbrido, mas o aumento de casos um pouco por todo o mundo, incluindo Lisboa, não permitiu que esse formato acontecesse. Assim, a Web Summit decorreu durante três dias ­– de 2 a 4 de dezembro –, de forma inédita, em formato totalmente online. Mas o conforto do sofá e a facilidade de assistir a várias conferências em tempo recorde acabaram por tirar o brilho do evento e permitir o contacto tão importante neste género de eventos.

Nesta versão online, Filomena Cautela foi a anfitriã do evento que teve início na passada quarta-feira, com discursos esperançosos do primeiro-ministro, António Costa, e do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina.

Para António Costa, não há dúvidas: um evento desta dimensão só pode transmitir uma mensagem de «força e esperança» nestes tempos de «incerteza» devido à pandemia. «O mundo pós-pandemia será diferente. Cabe-nos garantir que será melhor. Vamos fazer da Web Summit 2020 o ponto de partida para construir este futuro melhor», disse o primeiro-ministro na ‘cerimónia’ de abertura, não escondendo o orgulho no evento: «Não há nada mais poderoso do que ter 100 mil criadores, empreendedores e políticos a discutir novas soluções para o futuro», sublinhou.

E, apesar de este ano a pandemia obrigar a um diferente formato do evento, o primeiro-ministro garante: este é o ano em que o país «salta para a liga dos campeões da inovação».

E também Fernando Medina defende que este género de eventos é importante e faz falta.

Mesmo em versão online, foi impossível conseguir assistir a todos os eventos, uma vez que muitos decorreram em simultâneo. Mas esta edição foi recheada de conferências sobre os mais variados assuntos, com destaque para Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, que garantiu que a «Europa está a atrair mais capital para startups do que qualquer outra região do mundo». A responsável avançou ainda que as regras do mercado digital no continente serão reescritas.

Mas houve muito mais e com destaque para o que é nacional: José Mourinho foi agraciado com o prémio Inovação no Desporto e houve mais portugueses a ganhar prémios.

O projeto SMART, que conta com investigadores de cinco instituições portuguesas, venceu a primeira edição do concurso AI Moonshot Challenge. A equipa vai receber 500 mil euros para poder desenvolver um projeto de combate à poluição nos oceanos. Este projeto tem como objetivo conjugar a aprendizagem automática com os princípios das leis da física para construir modelos de previsão e simulação da acumulação de plástico no oceano.

Números superados

A edição de 2020 não trouxe qualquer proveito para o turismo português, mas o número de ‘visitantes’ foi um recorde. A organização esperava cerca de 100 mil inscritos e o número foi superado: 104 328 pessoas inscreveram-se nesta edição. Além disso, a Web Summit contou com participantes de 168 países, mais cinco que no ano passado. Mas há outros números a aumentar, como é o caso da presença feminina: este ano, 45,8% das participantes eram mulheres.