Covid-19 – Os preconceitos ideológicos que matam

Infelizmente, o Governo, em particular a ministra da Saúde, não foi capaz de gerir a crise na saúde sem a desconfiança do setor privado e até do setor social da saúde. Não foi capaz de olhar para o Sistema Nacional de Saúde para além do Serviço Nacional de Saúde.

A atual pandemia, em Portugal, veio demonstrar que os preconceitos ideológicos prejudicam a escolha das soluções adequadas e no tempo certo. A gestão da atual crise foi afetada por opções tomadas, não em função da resposta mais eficaz, mas limitadas por visões ideológicas que se sobrepuseram ao interesse do bem comum. O problema é que em cada decisão está em causa a saúde e a vida dos portugueses.

Os preconceitos ideológicos têm estado presentes e têm ditado muitas das decisões do atual Governo, algumas devido às convicções dos membros do Governo e outras em função da dependência parlamentar dos partidos de extrema esquerda.

Na atual crise, impunha-se uma ação centrada no combate à pandemia, recorrendo aos recursos mais adequados em cada momento e para cada situação, que estivesse liberta dos constrangimentos e limitações que, sempre, os preconceitos provocam.

Infelizmente, o Governo, em particular a ministra da Saúde, não foi capaz de gerir a crise na saúde sem a desconfiança do setor privado e até do setor social da saúde. Não foi capaz de olhar para o Sistema Nacional de Saúde para além do Serviço Nacional de Saúde.

As consequências deste preconceito estão à vista: o SNS foi responsabilizado, em exclusivo, por dar resposta à pandemia durante a primeira vaga de infeções, os equipamentos e os profissionais de saúde foram levados ao limite, os cuidados de saúde foram quase totalmente concentrados nesta crise e muitos doentes com outras patologias foram ignorados. O número de óbitos aumentou durante este período muito para além dos óbitos relacionados com a covid-19 se comparado com o número médio de óbitos em anos anteriores devido à falta de cuidados médicos.

Ainda mais grave foi o facto de ter sido prevista uma segunda vaga, ter sido denunciada a falta de envolvimento da capacidade instalada nos setores privado e social na preparação para enfrentar este novo aumento de casos e, mesmo assim, a ministra da Saúde resistiu até ao último instante em convocar estes setores para um esforço coordenado. Foi já durante a segunda vaga que se tornou inevitável esta concertação, mas que foi sempre envergonhada.

Entretanto, por falta de planeamento e por teimosia ideológica, não houve antecipação, o SNS esgotou a capacidade e, para além do risco de rutura (que esteve próximo), uma vez mais, o acompanhamento de outros problemas de saúde foi sacrificado quando poderia ter sido acautelado, por exemplo, com recurso ao setor privado.
Mais recentemente, no âmbito da preparação (tardia) do plano de vacinação, uma vez mais se notou o preconceito ideológico no envolvimento do setor privado, neste caso, das farmácias.

Pode compreender-se que na primeira fase da operação de vacinação, pelas características da vacina agora disponível e pelo reduzido número de pessoas alvo da primeira fase, se dispense a participação das farmácias. No entanto, não se compreende que, em fases subsequentes, com outro tipo de vacinas e com a generalização da cobertura, não se libertem os centros de saúde da pressão de trabalho de modo a permitir a recuperação dos atrasos nos demais cuidados de saúde, comprometendo as farmácias nesta operação, para a qual têm já experiência, competência e uma rede de implantação por todo o país que torna mais eficaz e mais rápido o processo de cobertura da vacina.

A gestão pública, sempre, ainda mais quando se trata da saúde e da vida das pessoas, não pode ser condicionada por preconceitos ideológicos que limitam ou até prejudicam as opções que melhor satisfazem as necessidades da comunidade.