O segundo impeachment

A Câmara dos Representantes aprovou pela segunda vez a destituição de Donald Trump. Nunca um Presidente teve tantos opositores dentro do seu próprio partido.

O segundo impeachment

Os chocantes ataques ao Capitólio por parte dos apoiantes de Donald Trump, na semana passada, foram a gota de água para a Câmara dos Representantes, que aprovou pela segunda vez o impeachment do Presidente cessante.
É a primeira vez na história dos EUA que um Presidente é destituído pela Câmara dos Representantes por duas vezes. Além disto, nunca um Presidente teve tantos votos a favor deste processo dentro do seu partido.

Foram um total de dez republicanos que aprovaram o impeachment de Trump, entre os quais Liz Cheney, a número 3 do partido na câmara baixa do Congresso e filha do ex-vice-presidente Dick Cheney. A republicana afirmou «que nunca houve maior traição por parte de um Presidente dos Estados Unidos às suas funções e ao juramento da Constituição». 
Este recorde era detido por Bill Clinton quando, em 1998, cinco democratas votaram para que fosse afastado do cargo.

O que falta para afastar Trump da Casa Branca?

Depois da votação da Câmara de Representantes, 232 votos a favor e 197 votos contra (e cinco abstenções), agora o processo vai passar para o Senado. Aqui, será necessário obter uma maioria de pelo menos dois terços (67) para afastar efetivamente Trump do cargo, o que não será fácil, mesmo que esta instituição possua uma maioria democrata, depois da eleição de dois senadores na Geórgia. 

O líder da maioria republicana no Senado dos EUA, Mitch McConnell, e outrora um dos maiores aliados de Trump, não descartou votar a destituição, contudo afirmou que não aceitará o julgamento político do Presidente cessante antes de Biden tomar posse. 

Destituição chega a tempo?

Os republicanos estão numa corrida contra o tempo para aprovar o impeachment antes que o mandato de Trump termine: a transição de poder para o Presidente eleito, Joe Biden, acontecerá no dia 20 de janeiro, e é bem provável que não consigam alcançar a meta.

Alguns democratas sugeriram que se faça o impeachment agora, mas se deixe o julgamento pelo Senado para depois dos primeiros cem dias de Biden, para que este não tenha de começar o mandato a lidar com conflitos internos. 
Embora não tenha efeito sobre o mandato de Trump, o julgamento político pode realizar-se com o Presidente cessante fora do cargo, impedindo que volte a candidatar-se à Presidência, colocando um ponto final na sua carreira política.

Assalto ao Capitólio parte 2?

Uma fonte do gabinete de Biden informou que o processo de impeachment está a ser tratado com algum cuidado, uma vez que existe o receio de que o ainda Presidente dos Estados Unidos volte a tomar uma ação que possa pôr em risco as instituições da nação.

Trump publicou um vídeo na conta de Twitter da Casa Branca (visto que o seu perfil pessoal continua suspenso) onde apelava a que nenhum dos seus apoiantes recorresse à «violência política». Isto, no entanto, não foi suficiente para demover os reforços para a segurança do dia de investidura de Biden: na quinta-feira, foi anunciado um aumento de mais de 20 mil soldados da Guarda Nacional para este evento.

Muitos destes soldados já estão alojados no Capitólio, algo que acontece pela primeira vez desde a Guerra Civil (1861-65), e estarão a pensar em formas de evitar o caos que aconteceu durante o ataque da semana passada a este edifício, que provocou a morte de cinco pessoas.