Caramba, não adiaram as eleições!

O tempo não volta para trás! Estamos aqui! Foi o Natal e Ano Novo, foi a sensação de facilitismo, foi a incapacidade de termos um sistema preventivo de fazer o ‘tracking’ dos infetados, foi o não acreditar que a segunda e terceira vaga nos iriam atingir, como se estivéssemos protegidos por um qualquer deus lusitano.

Cada dia que passa é um sufoco! Desde março do ano passado que os comunicados diários da DGS são aguardados com expectativa. Umas vezes ansiosamente, outras vezes a monotonia das infeções e mortes a causar uma lamentável indiferença. Presentemente, os sucessivos recordes diários de infetados e mortes geram angústia, sofrimento e choque. Mas crescem em progressão que já nem sei se é aritmética ou geométrica, mas é pavorosa.

O tempo não volta para trás! Estamos aqui! Foi o Natal e Ano Novo, foi a sensação de facilitismo, foi a incapacidade de termos um sistema preventivo de fazer o ‘tracking’ dos infetados, foi o não acreditar que a segunda e terceira vaga nos iriam atingir, como se estivéssemos protegidos por um qualquer deus lusitano. Os epidemiologistas bem se preocuparam em avisar sucessivamente os políticos do que aí vinha, mas estes, na prática, fizeram ‘ouvidos de mercador’, nunca atuando preventivamente e o resultado é este: uma gestão predominantemente reativa.

Nos entretantos, no SNS, todo o pessoal faz milagres, desdobram-se em sucessivos turnos até caírem para o lado, exaustos e quantas vezes a chorar. Vimos um médico, Ricardo Baptista Leite, ter a hombridade de vir desabafar depois de um turno de sofrimento. Perante estas declarações que são um grito de alerta para as populações e seus comportamentos e que deveriam merecer todo o apoio do Governo, somos confrontados com a política portuguesa em todo o seu mesquinho esplendor ao ouvir as declarações de Ana Catarina Mendes, acusando-o de «falsidade e demagogia»!

Aliás, já tínhamos ouvido António Costa atacar impiedosamente Poiares Maduro, Rangel e o acima citado Baptista Leite, apenas e só porque ousaram criticar o Governo (e Costa, por inerência) catalogando-os de não serem patriotas e dando o mote para respostas a outros ataques. Em democracia a crítica deve ser livre e o PS, quando na oposição, sempre exerceu esse direito como fez impiedosamente durante o Governo de Passos Coelho, mesmo sabendo que tinha sido o responsável pela vinda da troika. Hoje, no Governo, deveria ter a humildade de saber ouvir para agregar e construir.

Infelizmente não é assim. Estamos em pandemia e os nossos governantes esperam que tudo se lhes perdoe em nome do interesse nacional. Mais: esperam ser diariamente louvados, quiçá idolatrados, pelos sucessivos anúncios de algo que positivamente vão fazendo. Como dizia Júdice e até já o escrevi, a máquina de propaganda governamental é de enorme eficácia (já agora, quanto custarão tantos assessores de comunicação, irrelevantes para a ação governativa, mas muito eficazes para as sondagens e suavização do impacto das críticas da oposição?).

Só que a realidade da pandemia não dá tréguas e colhemos sempre o que (não) plantamos. Que nos resta? Confinar ‘à séria’ como em março/abril! Qual a dúvida hoje? As vacinas, se chegarem aos ritmos contratados, apenas terão algum efeito coletivo a 6 ou 9 meses de distância. A não ser que se pretenda que o primado da saúde seja hipotecado ao primado da economia. Fazer equilíbrios nos dias de hoje não dá mesmo.

Nestes momentos tão duros só me surpreende não se terem adiado as eleições presidenciais. Quando há meses se previa a terceira vaga em janeiro 2021, dever-se-ia ter antecipado o enorme risco que seria manter estas eleições. Não se tratava de suspender a democracia nem os direitos dos eleitores, mas apenas ter algo a que o povo chama de ‘bom senso’.

O exemplo das filas de domingo é a antítese da sensação de segurança que se pretende transmitir. Tendo diariamente acesso ao número de inscritos para votar a 17 janeiro que atingiram cerca de 246 mil pessoas, não foram capazes de montar uma estrutura eficaz nos locais previsíveis de maior votação. Ainda por cima, a coroar as tristes imagens que as televisões transmitiram, alguns responsáveis como o ministro Cabrita (de certeza industriados pelos tais profissionais da comunicação), vieram coordenadamente falar do entusiasmo das eleições de 1975?

Sejamos realistas: por mais que tudo corra bem, as eleições poderão ser um foco adicional de covid. As mesas de voto abertas todo o dia, os eleitores em fila mesmo se bem-comportados, serão sempre um alfobre de contágios. O adiamento teria uma vantagem adicional: não duvido que os candidatos tivessem anuído, podendo demonstrar a união no combate à pandemia! Assim, iremos constatar que os eleitores se preparam, por questões de saúde mas também pelo desencanto, para eleger a abstenção como Presidente!

 

P.S. 1 – O futebol profissional em Portugal raramente perde uma oportunidade para se descredibilizar como indústria – agora a propósito de testes, ouvimos o bom e o bonito sobre a idoneidade de quem os realiza. Para meterem golos na própria baliza são uns verdadeiros ases! Mas não se queixem que os investidores e patrocinadores lhes virem as costas – estes dirigentes bem o merecem!

P.S. 2 – Biden tomou posse! Alguns decretos que revertem medidas de Trump só merecem elogios, particularmente o regresso ao Acordo de Paris, a anulação da decisão dos EUA deixarem a OMS e a suspensão da construção do muro com o México. Mas mais importante: há a esperança mundial de que a ponderação reverta o populismo.