O problema da abstenção

Quando alguns dizem que os indecisos são o problema das sondagens pré-eleitorais, eu entendo precisamente o contrário. O problema está nos 80% que respondem à sondagem e não nos 20% que dizem estar em dúvida sobre o seu voto. A poucos dias das eleições poucos não sabem em quem vão votar. A questão está nos…

por Rui Oliveira e Costa
Politólogo, Responsável-técnico da Eurosondagem

A abstenção em país sem voto obrigatório (que enquanto responsável técnico da Eurosondagem me favorecia, mas como cidadão, ex-deputado e ex-dirigente político sou contra, em defesa da liberdade) é muito difícil de prever em sondagens pré-eleitorais. 

Com a experiência que fui adquirindo em mais de 25 anos nesta atividade, atrevo-me a um exercício (mais empírico do que científico).

Esta sondagem se se derem ao trabalho de ler a Ficha Técnica, constantam que tem 15,1% de recusas em colaborar. Quem em casa não responde a uma pergunta, em geral, é-lhe indiferente o ato eleitoral a que se refere.

Por outro lado, se verificarem a diferença entre votos brutos e projetados (que naturalmente são os mais explicitados) temos 15,5%.

Ora, somando 15,1% mais 15,5% temos 30,6% – o tal exercício que atrás referi é este. O dobro é 61,2%.

Há ainda a referir que as sondagens não contam com os emigrantes. Ora, estes passaram a ter um recenseamento automático (com o qual concordo), mas que tem o efeito de aumentar consideravelmente o número de eleitores.

Daí que se Marcelo obtiver o resultado que esta última sondagem aponta, será a maior de um candidato a 2.º mandato, superior a Eanes, Sampaio e Cavaco – Soares é um caso aparte e presumo que irrepetível.

Quando alguns dizem que os indecisos são o problema das sondagens pré-eleitorais, eu entendo precisamente o contrário. O problema está nos 80% que respondem à sondagem e não nos 20% que dizem estar em dúvida sobre o seu voto. A poucos dias das eleições poucos não sabem em quem vão votar. A questão está nos 80% e cerca de metade não vão votar.

São estes, os que respondem que vão votar e não vão às urnas, que dificultam e muito as sondagens pré-eleitorais, tornadas menos precisas que as consagens à ‘boca de urna’, onde a abstenção não é problema.

Acresce ainda a pandemia, que transformará estas eleições num caso de estudo.

Teremos, portanto, uma abstenção muito elevada, que poderá alterar os resultados previsíveis, neste caso com um quase certo vencedor, Marcelo Rebelo de Sousa.

Como vimos atrás, a abstenção não seria inferior a 60%, e com o recenseameanto automático dos emigrantes atingirá os 70%.

Isto é estrutural.

Com a covid deve ficar entre os 73% e os 75%.

Por favor, vão votar, exercendo esse direito.

E bom ano de 2021.