Covid-19. Há 12 mil casos em lares, o dobro do início do ano

Agora com 168 mil vacinas já distribuídas, há a expetativa de que a vacinação deste grupo mais vulnerável comece a ter efeito. Mas nunca houve tantos casos em lares. Esta terça-feira, os lares representavam 7,5% dos casos ativos no país, mais do que no início do ano. 

O aumento de casos de covid-19 desde o início do ano não poupou os lares de idosos, mesmo com muitas instituições onde as visitas continuaram a ser à distância e o Natal não foi de idas a casa de familiares. Esta terça-feira, revelam dados disponibilizados ao i pela Direção-Geral da Saúde, havia 12 158 casos ativos em lares e estruturas de cuidados continuados com surtos identificados, entre residentes e funcionários. São o dobro da primeira semana do ano, quando se registavam 5 mil casos ativos em estabelecimentos residenciais para particulares de Segurança Social e um máximo de casos sinalizados em instituições que acolhem idosos.

Os casos de covid-19 subiram em todo o país e o mês de janeiro foi o que registou o maior número de diagnósticos, com 305 mil casos reportados à Direção-Geral da Saúde, mas a informação disponibilizada ao i não permite perceber quantos casos foram ao todo sinalizados em instituições. A partir dos dados da DGS é possível, no entanto, concluir que, esta terça-feira, os casos em lares representavam 7,4% dos 164 153 casos ativos no país, um peso maior do que no início do ano, quando já batiam recordes. A 4 de janeiro, data do balanço disponibilizado ao i, os 5226 casos de infeção sinalizados em estruturas residenciais para idosos representavam 6,4% dos casos no país.

Com o avanço da vacinação, a expetativa é de que a cobertura vacinal comece a traduzir-se em menos hospitalizações e menor mortalidade. A incidência da doença é maior nos lares, mas o diagnóstico nas instituições também acaba por ser facilitado por serem espaços fechados e com coabitantes. Tendo por base um universo de 200 mil pessoas neste tipo de instituições, isso significa que 7,5% têm, neste momento, um diagnóstico de infeção pelo SARS-CoV-2, quando os cerca de 165 mil casos ativos globalmente no país representam, a esta altura, 1,6% da população portuguesa que sabe estar infetada com o vírus. Estimativas mais detalhadas sobre a incidência da infeção ao longo dos últimos meses e se houve muito mais casos do que os que foram diagnosticados só deverão surgir nos próximos meses.

Está previsto arrancar por esta altura o novo inquérito serológico nacional conduzido pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Em julho, concluiu, com base na proporção de pessoas com anticorpos para o vírus numa amostra representativa da população, que nos primeiros meses da epidemia teria havido seis vezes mais casos de infeção do que os que foram diagnosticados. 

47 mortes por dia O número de mortes associadas à covid-19 em lares, que até à primeira semana de janeiro representou 30% das mortes por covid-19 no país, ainda assim menos do que na primeira vaga da epidemia, continuou a aumentar. Desde dia 4 de janeiro até esta última terça-feira, os dados disponibilizados ao i pela DGS, morreram mais 1407 idosos que residiam em instituições, elevando para 3574 o número de mortes em lares associadas à pandemia desde os primeiros casos detetados no país, em março do ano passado. São, assim, 47 mortes a cada dia neste último mês, com situações em que os idosos faleceram nas instituições, mas maioritariamente nos hospitais. Neste último mês, as mortes ligadas a lares representaram 23,5% da mortalidade associada à covid-19 no país. A DGS indica, no entanto, que só são contabilizados os casos ligados a surtos identificados. 

Há agora a expetativa de que a vacinação, que no último mês se focou nas estruturas residenciais para idosos, se traduza em menos hospitalizações e menos quadros graves de infeção, um balanço que ainda não foi feito. Na semana passada, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, que acompanha esta área na comissão nacional de vacinação, admitiu ao Nascer do SOL que ainda não existiam evidências desse efeito. O facto de a vacinação ter começado nos lares no período de maior disseminação da infeção levou a que houvesse casos de idosos diagnosticados já após terem feito a vacina. “Tudo indica que já estavam a incubar o vírus”, disse, apontando que seja possível possível ver o impacto na vacinação nas hospitalizações o mais tardar no fim de março.

Esta semana, no Parlamento, a vice-presidente da Segurança Social Catarina Marcelino adiantou que já foram administradas 168 mil vacinas em equipamentos residenciais para pessoas idosas, cuidados continuados integrados, lares residenciais para pessoas com deficiência e lares ilegais, já contando com 764 lares ilegais sinalizados desde o ano passado pelos serviços da Segurança Social, 6 mil esta semana. Falta ainda vacinar 23 mil pessoas em lares que tiveram ou têm surtos ativos, indicou. Segundo a informação disponibilizada pela DGS ao i, esta semana havia 396 surtos ativos neste tipo de instituições.

A Casa do Artista, em Lisboa, é uma das instituições a viver dias pesados e confirmou ontem que foram identificados mais casos positivos entre utentes e funcionários. Nesta última semana lamentou a morte de seis residentes, artistas de carreira e rostos conhecidos do público português, a atriz Adelaide João; a cantora lírica Maria Andrea Gaspar; a atriz Cecília Guimarães; no domingo, os fadistas José Amaro e Noémia Cristina; e o ator António Cordeiro, que sofria de uma doença degenerativa e, segundo disse à imprensa a amiga e também atriz Isabel Medina, estava já muito debilitado, não tendo falecido devido à covid-19.