“Pensei ficar cinco anos. Agora digo 10, máximo”

Carlota Corrêa Guedes trabalha em consultoria e mudou-se há um ano e meio para Illinois, Chicago. «O objetivo era aprender e é isso que estou a conseguir fazer. Estou a ter muitas oportunidades», diz. Voltar para Portugal faz parte dos planos futuros.

Carlota Corrêa Guedes tem 29 anos e atende o telefone à Luz em Chicago, Estados Unidos (EUA). Deixou Portugal há um ano e meio, corria o verão de 2019. Desafiar-se a nível profissional foi o principal motivo da mudança. «Trabalho na consultora EY (Ernst & Young). Estava nessa empresa a trabalhar em Portugal e, como também tenho nacionalidade americana, consegui pedir transferência para cá», conta a jovem. 

Além de ter vivido nos EUA quando era mais nova, também havia colecionado nova temporada naquele país por altura da faculdade. «Sempre quis voltar para viver e trabalhar aqui durante uns anos. Em consultoria, a diferença entre os projetos em Portugal e nos EUA é imensa em termos dimensionais e de impacto. Aqui o meu projeto tem 400 pessoas. É outra realidade», revela Carlota. 

Apesar de ter alguns amigos nos EUA, «em Chicago não conhecia ninguém». «Essa parte foi mais difícil, porque acabava por estar mais sozinha. Mas como estava sempre a viajar em trabalho – com projetos em Londres ou Nova Iorque –, tornou-se mais fácil», admite. 

A pandemia de covid-19 alterou, porém, as rotinas habituais e também os fins de semana, em que costumava reunir com amigos em Washington ou Nova Iorque. «Foi horrível, porque em Chicago não tenho grandes laços e em contexto de pandemia as pessoas isolam-se. Em março fechou mesmo tudo e foi o caos. Não havia nada para fazer, não tinha ninguém com quem falar e acabei por trabalhar muito mais, porque era a única coisa que tinha. Depois fui-me habituando e as coisas começaram a acalmar. Chegou o verão e, em Chicago, há muito a cultura de ir até ao lago ou ao parque e é um espírito muito giro».  

Sobre a atual situação política do país, Carlota destaca as grandes diferenças entre os vários Estados – o mesmo se aplica no que respeita à pandemia –, bem como o interesse e o papel ativo dos jovens. 
«Nos EUA é tudo fragmentado por Estados, uns muito apoiantes de Donald Trump e outros de Joe Biden. O Illinois [onde vive] é o Estado mais democrata, mais azul. O mais engraçado é que exatamente na semana das eleições, fiz um passeio de carro até Tennessee e lá é o oposto, um Estado mais republicano. As pessoas todas ao monte sem máscaras, uma diferença gritante. Em Chicago havia regras e restrições e em Nashville estava tudo uma balda. Senti essas duas Américas, ou a América dividida de que as pessoas falam», afirma. E acrescenta: «Em Portugal, nós, jovens, estamos um bocado à parte da política, mas aqui é tudo muito a sério. Quando o Biden ganhou foi tudo para a rua buzinar com os carros, bandeiras por todo o lado. Em Portugal só vejo isso nos jogos de futebol [risos]. As pessoas aqui envolvem-se muito mais na política».

Atualmente, com a pandemia mais controlada, neste mês de janeiro, em Chicago, «começaram a reabrir os espaços, embora, claro, com capacidade reduzida». «Ainda este fim de semana [último fim de semana do passado mês de janeiro] fui ao cinema pela primeira vez desde que começou a pandemia. Com máscara e só com 40% de lotação», exemplifica. 

Carlota confessa que inicialmente tinha previsto ficar cinco anos nos EUA. Mas o tempo da estadia parece ter sofrido alterações entretanto: «Quando me perguntam agora quando volto, eu respondo de igual forma, que fico mais cinco anos. Mas, no máximo, fico 10, mais do que isso é demais. Sei que no futuro quero criar os meus filhos em Portugal, é lá que tenho a família e os amigos e não se pode pensar só no trabalho. Temos que estar próximos dos nossos para sermos felizes». 

Por enquanto, «é obrigatório» visitar Portugal pelo menos duas vezes por ano: «No Natal e no verão».