Afirmando que é preciso analisar cada época e cada acontecimento no seu contexto, Eanes adiantou que foi o Império que nos garantiu a soberania. «Sem império dificilmente teríamos mantido a independência em certas épocas. Seríamos uma Catalunha ‘menos’. O império fez com que conseguíssemos manter-nos soberanos nos momentos mais difíceis».
Para o ex-Presidente da República, que esteve em África, na guerra colonial, mas depois participou no 25 de Abril e foi um dos ‘heróis’ do 25 de Novembro, «o que caracteriza um povo é a sua personalidade, a sua unidade e a sua continuidade, tanto nas coisas boas como nas coisas más». E, assim, a sua obrigação em cada momento é «respeitar essa personalidade, manter a sua memória coletiva e garantir a continuidade, permitindo que ela se mantenha ao longo da História».
E reforçou esta ideia: «Acabar com a memória do passado não é correto, é desnecessário e é indesejável». Nesta medida, é abertamente a favor da conservação dos brasões e contra a sua remoção.
Manifestando-se contra as «modas» de uma «esquerda presunçosa» que esquece a especificidade da História portuguesa ‘completa’, no seu conjunto, Ramalho Eanes defendeu a atitude exatamente oposta: «Um povo deve aprender com a História, não deve esquecer e renegar a sua História. Deve manter em relação à História uma atitude prudente, moderna e aberta», e não hostil, nem arrogante, nem desconfiada. Deve «aprender com os erros» e não ignorá-los.
Finalmente, o antigo chefe do Estado critica a atitude daqueles que insistem nas «coisas pequenas que nos dividem», procurando envolver os portugueses em «querelas inúteis», em «polémicas indesejáveis», que em vez de nos unirem, só contribuem para a desunião.
E conclui com uma afirmação inesperada: «Esta esquerda nova não tem nada que ver com a esquerda velha, que defendia a igualdade, a liberdade e a dignidade».