Carta aberta a Fernando Medina pelas árvores de Lisboa

Quem vive em Lisboa testemunha as podas abusivas e inadequadas que são realizadas (e que muitas vezes condenam as árvores a uma morte lenta), a classificação de árvores como doentes devido aos sucessivos anos de abandono para justificação do seu abate ou até abates no próprio Parque Florestal de Monsanto!

por Inês de Sousa Real
Deputada do PAN

Caro presidente
Fernando Medina,

Escrevo-lhe por ocasião do Dia Internacional das Florestas e da Árvore, que se comemora a 21 de março. Esta data deveria ser um motivo de orgulho para a nossa cidade. Ao invés, assinalo com tristeza o abate de árvores e podas abusivas a que temos assistido em Lisboa ao longo destes anos sob a sua alçada governativa.

Sabe bem do que falo pois não tem sido por falta de alerta do PAN, que inclusive lhe apresentou dezenas de requerimentos. Também as cidadãs e cidadãos lhe entregaram dezenas de petições, onde se insurgem contra esta política arboricida, revelando um descontentamento geral mais do que legítimo.

Nos últimos anos temos assistido ao abate de árvores adultas e saudáveis só porque não se enquadram nos projetos urbanísticos e paisagísticos ou de estacionamento que quer implementar, com a agravante de tal ocorrer mesmo durante o período de nidificação de aves, com uma visão incompreensível, que tem descaracterizado e despido a cidade de espaços verdes.

As árvores têm sido tratadas pelo seu executivo como um objeto decorativo que está a estorvar e passou de moda. Depois, justifica o abate com a sua substituição por outras árvores, quando é mais do que evidente que uma árvore jovem (caso sobreviva) levará décadas a conseguir o porte e os benefícios de uma adulta, nomeadamente no que diz respeito à capacidade de captar carbono e regular a temperatura, o que é da maior importância para enfrentarmos os desafios climáticos dos nossos tempos.

Quem vive em Lisboa testemunha as podas abusivas e inadequadas que são realizadas (e que muitas vezes condenam as árvores a uma morte lenta), a classificação de árvores como doentes devido aos sucessivos anos de abandono para justificação do seu abate ou até abates no próprio Parque Florestal de Monsanto!

São ainda abatidas ou transplantadas árvores para criar novos espaços verdes, como vai acontecer na requalificação da Praça do Império. Poderia dizer-se que Lisboa é uma autêntica república das bananas no que ao arvoredo diz respeito, mas até para isso seria preciso ter árvores!

Tudo isto apesar do próprio Regulamento Municipal do Arvoredo reconhecer que todas as árvores são por princípio consideradas elementos de importância ecológica e ambiental a preservar. Mas como nos tem vindo a habituar nestes anos de gestão em Lisboa, nem sempre o que se escreve corresponde à ação!

Afinal, para quê proteger as árvores perante uma crise climática que, ano após ano, se agrava? Para quê salvaguardar o futuro das gerações vindouras? Para quê ouvir a população que quer preservar as árvores que fazem parte da história dos seus bairros?

Para mim a resposta é óbvia: porque fomos eleitas e eleitos para gerir, proteger e cuidar e porque enfrentamos uma crise ecológica profunda. Não se trata de uma questão ideológica, mas sim de bom senso e de responsabilidade. E quando se é presidente de uma Câmara, espera-se que este sentido de responsabilidade esteja presente em todos os momentos, especialmente quando está em jogo a qualidade de vida e o futuro dos seus munícipes.

Lamento que não tenha percebido que não é com bandeirolas ou ‘smart trees’ que se assinala uma Capital Verde Europeia, mas com árvores. Sabe? Daquelas árvores reais que captam carbono, que acolhem vida animal e que ajudam a tornar uma cidade mais viva, resiliente e ecologicamente equilibrada!

Lastimo dizer-lhe que passou ao lado da grande ‘obra’ que poderia ter deixado à cidade, aumentado e preservando a sua mancha verde. Para mais quando bem sabemos que somos talvez a última geração de eleitas e eleitos que podem contribuir para mitigar os efeitos das alterações climáticas. Nesta data que assinalamos, não posso deixar de reiterar o apelo que temos vindo a fazer. Precisamos de uma cidade mais verde e viva! Árvore a árvore não ceife a esperança das presentes e futuras gerações numa Lisboa mais sustentável.